Título: Cresce o medo entre os brasileiros ilegais
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Internacional, p. A15

LONDRES - Os dois ataques terroristas em Londres, o conseqüente reforço das medidas de segurança e a morte do brasileiro Jean Charles de Menezes elevaram o temor dos imigrantes brasileiros em situação irregular no país. A advogada brasileira Vitória Nabas, especializada em imigração, disse que desde 7 de julho, quando ocorreram os primeiros atentados na capital, o número de consultas recebidas por seu escritório cresceu cerca de 50%. "Nos últimos dias as consultas aumentaram ainda mais, o telefone não pára de tocar", disse Vitória ao Estado. "Atendo dez ou doze brasileiros por dia, em situação regular ou não, mais do que isso não dá, infelizmente." Depois dos ataques terroristas de 11 de setem bro nos EUA e o aumento do controle policial nos aeroportos e fronteiras americanas, a Grã-Bretanha havia se tornado um dos principais destinos de brasileiros. Embora tenha aumentado o cerco contra imigrantes ilegais recentemente, a Grã-Bretanha continua a oferecer um acesso relativamente fácil. Muitos imigram para ganhar a vida, matriculam-se em um dos milhares de cursos de inglês e entram no país com visto de estudante, podendo trabalhar por 20 horas semanais.

A maioria faz pelo menos o dobro da jornada permitida, principalmente em restaurantes e serviços gerais, como limpeza e mão-de-obra para a construção civil. Outros entram como turistas, obtêm visto de seis meses e acabam ficando.

Estima-se que apenas em Londres existem mais de 100 mil brasileiros. Segundo o consulado-geral do Brasil, o atendimento diário de brasileiros saltou de 70 pessoas em 2001 para 350 no ano passado. A valorização da libra e o idioma inglês pesam na decisão de escolher a Grã-Bretanha.

I.M, de 32 anos, chegou a Londres em setembro. Veio acompanhando o casal para quem trabalhava como governanta no Brasil. O casal tem o passaporte italiano. I.M. entrou como turista. O visto venceu em fevereiro, mas ela permaneceu. Ela se divide entre o trabalho de babá, para os três filhos pequenos do casal, com quem continua morando, e um serviço de limpeza em um escritório no centro da cidade. Da família, não recebe salário. Toma conta das crianças em troca de moradia e comida. Como faxineira, ganha 400 libras (cerca de R$ 1.800) por mês para limpar 12 salas em quatro horas diárias de trabalho. Como está ilegalmente no país, I.M. não tem acesso a serviços públicos, como educação e saúde, e não poderia trabalhar. O serviço no escritório foi passado por uma amiga que tem visto e em nome de quem I.M. recebe o salário.

O uso de passaportes ilegais, principalmente italianos e portugueses, é prática comum. M.C. vive há sete anos em Londres, quatro deles com um passaporte ilegal italiano, pelo qual pagou cerca de 1.500 libras (R$ 6.800). Nessa situação, comprou e vendeu casa, e se casou. Mas MC teme que a qualquer momento possa ser apanhado.