Título: Lula muda discurso e diz que não se pode brincar com a economia
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Nacional, p. A4

CANOAS - Pela primeira vez desde o início da crise detonada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou preocupação de que a turbulência política atrapalhe a economia. "Temos ainda problemas sérios e não podemos brincar nessa parte para que a gente não tenha um retrocesso, porque um retrocesso leva anos e anos para a gente recuperar", disse ele, em discurso de improviso durante visita às obras de ampliação da Refinaria Alberto Pasqualini, em Canoas (RS). "Não se recupera num dia, levam-se anos e, às vezes, não se recupera." Um pouco antes, Lula afirmara que seu governo tem agido com a cautela necessária: "A economia brasileira, nós tivemos de tratá-la com o cuidado com que precisa ser tratada, sem a pressa e o ufanismo com que, muitas vezes, alguém quer que a gente trate, porque nós somos, ainda, uma economia muito vulnerável." O discurso recebeu muitos aplausos da platéia de cerca de 700 funcionários da refinaria. Foi o quinto evento do presidente com trabalhadores em uma semana.

Mais uma vez, Lula criticou os antecessores, lembrando planos econômicos fracassados. "Nós tivemos a década de 80 e a de 90 em que não foi feita muita coisa neste país. Por quê? Porque o Brasil ficou sempre apostando que iria aparecer um mágico e iríamos tirar um economista do bolso, da cartola, não sei de quê, e aquele economista iria fazer um plano que salvaria o País", afirmou. "Todos, historicamente, que tentaram fazer mágica com a economia brasileira quebraram a cara, porque uma coisa é a mágica acadêmica, outra coisa é a praticidade do mercado e da sociedade brasileira, que trabalha com muito mais objetividade."

O presidente também atacou a oposição, na qual identificou uma torcida para que o Brasil enfrente problemas. "O que incomoda muita gente é que nós não fizemos nenhuma loucura. Imaginavam que este país iria quebrar em 2003", disse Lula. "Esse acerto do nosso comportamento incomoda." Sem fazer referência à redução nas previsões de crescimento para 2005, ele garantiu que será duradoura a retomada econômica registrada no ano passado. Apenas ponderou: "Não com a rapidez que queremos."

PETROBRÁS

Participaram da solenidade o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), e vários petistas gaúchos, entre eles o ministro da Educação, Tarso Genro, presidente do PT.

Logo no início do discurso, Lula elogiou o recém-nomeado presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, e seu antecessor, José Eduardo Dutra.

"Quando essa extraordinária empresa, a Petrobrás, foi pensada, não faltaram editoriais dizendo que a construção da Petrobrás era mais uma megalomania dos políticos brasileiros, era mais uma empresa de cabide de empregos", contou. "Aquelas pessoas azedas, que estão sempre torcendo para acontecer uma desgraça para terem razão", alfinetou.

Ao se despedir dos trabalhadores, Lula disse não dar importância às formalidades da Presidência. "A coisa que me dá mais orgulho não é alguém me chamar de presidente. Eu sinto mais orgulho de ser chamado de companheiro Lula."