Título: Em 6 meses, R$ 80 bilhões de juros
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

Montante é o maior desde o início da série histórica, em 1991. Economia do setor público, de R$ 59,9 bilhões, também é recorde

O Brasil bateu o recorde de pagamento de juros no primeiro semestre deste ano. Foram R$ 80,12 bilhões, o maior montante semestral já registrado pelo Banco Central desde o início da série histórica em 1991. No mesmo período, a economia feita pelo setor público (União, Estados, municípios e empresas estatais), também foi recorde e somou R$ 59,95 bilhões. Esse montante, também chamado de superávit primário, foi totalmente utilizado para pagar a conta de juros. Ainda ficaram faltando R$ 20,17 bilhões. Essa diferença negativa é também chamada de déficit nominal. Em junho, o superávit primário ficou em R$ 9,62 bilhões e o déficit nominal foi de R$ 5,61 bilhões.

A meta fixada pelo governo é obter um superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), equivalente a R$ 83,85 bilhões até o fim do ano. Até junho, portanto, 72% da meta anual já havia sido cumprida.

No entanto, o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, ressaltou que a tendência nesta segunda metade do ano é de aumento das despesas. Em outras palavras, o resultado primário deverá ficar menor de agora em diante. Ele disse, no entanto, que é "bastante factível" fazer a economia dos R$ 23,9 bilhões restantes para atingir a meta. "O governo continuará vigilante e o esforço feito até agora demonstra o comprometimento com isso", afirmou Lopes.

O valor em reais da meta fixada para este ano poderá mudar. Isso porque o governo reviu para baixo sua estimativa de PIB deste ano. Em vez de um crescimento de 4%, espera-se agora um crescimento de 3,4%.

Portanto, o valor do PIB em reais ficará menor em 2005, e os 4,25% representarão também um valor mais baixo em reais. "Mas qualquer alteração nesse sentido cabe ao Tesouro Nacional."

A maior contribuição para o superávit primário do primeiro semestre veio do governo central (Tesouro Nacional, Banco Central e INSS), que economizou quase R$ 40 bilhões. Os governos de Estados e municípios acumularam R$ 13,7 bilhões, enquanto as estatais tiveram um superávit de R$ 5,90 bilhões. Em comparação com o período de janeiro a junho de 2004, o resultado primário ficou 23% maior.

TAXA SELIC

Ao analisar o período de 12 meses fechado em junho, o setor público fez também o maior superávit primário já registrado: R$ 94,87 bilhões.

Nos 12 meses encerrados em maio, esse valor estava em R$ 93,17 bilhões. Também nesse período, a conta de juros somou R$ 146,55 bilhões no mês passado, ante R$ 141,20 bilhões fechados em maio. Essa carga mais alta de juros foi influenciada pelo ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic) conduzida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central entre setembro do ano passado e junho deste ano, que se reflete no esforço de economia de recursos que tem de ser feita para reduzir o endividamento público. Mais da metade da dívida pública segue a correção da Selic.

Nos 12 meses encerrados no mês passado, quando contados os gastos com juros, o déficit nas contas públicas está acumulado em R$ 51,67 bilhões, o equivalente a 2,77% do PIB do País. A expectativa do governo é que esse resultado negativo termine o ano em 3,06% do PIB.

Considerando o resultado das contas do setor público apenas em junho, a influência da taxa Selic em 19,75% ao ano na evolução dos juros fica clara. Em maio, os juros haviam somado R$ 13,71 bilhões e subiram para R$ 15,23 bilhões no mês passado. O superávit primário de R$ 9,62 bilhões feito pelos governos e estatais em junho foi insuficiente para cobrir essa conta. No mês anterior, o superávit havia sido de R$ 6,31 bilhões. Em junho do ano passado, houve uma economia primária de R$ 7,92 bilhões.