Título: Verão deve trazer vírus novo e pior
Autor: Ricardo Westin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Vida&, p. A16

Autoridades alertam que o sorotipo 4 tornará as epidemias mais perigosas

A dengue, que costuma ser epidêmica nos meses do verão, ainda continua fazendo vítimas no País. Até maio, segundo o Ministério da Saúde, a doença havia matado cinco pessoas. Um levantamento feito pelo Estado nas secretarias estaduais da Saúde mostra que o número de mortos até julho já subiu para pelo menos 20. Em todo o ano passado, houve oito mortes. A situação é mais grave no Ceará, onde foram confirmadas as mortes de 12 pessoas. Em comparação com o ano passado, o número de casos de dengue cresceu em 19 das 27 unidades da federação. Segundo o ministério, os doentes no País subiram de 79.674 entre janeiro e maio de 2004 para 107.575 no mesmo período de 2005. Em muitos Estados, o número de doentes nos últimos sete meses já é maior que o de todo o ano passado.

A quantidade elevada de casos suspeitos de dengue, que acabou afetando o sistema estadual de saúde, levou o governo de Roraima a decretar estado de calamidade pública no Estado. Foram cerca de 2.500 casos suspeitos da doença neste ano.

Em São Paulo, a Secretaria de Estado da Saúde reunirá os secretários municipais dos locais onde a situação é mais delicada para debater ações de combate ao mosquito transmissor da dengue. Cidades como Ribeirão Preto, Santos e Olímpia estão passando por surtos.

Dois motivos são apontados para explicar o crescimento de infecções no ano. O primeiro é o fato de o período das chuvas ter se prolongado até meados do ano - água parada é o ambiente ideal para a proliferação do mosquito transmissor da doença. O segundo é a troca de prefeitos em janeiro, o que em muitas cidades interrompeu os programas de combate à dengue.

Na opinião do secretário nacional de Vigilância em Saúde, Jarbas Barbosa, o problema apareceu porque, diante do número relativamente baixo no ano passado, as pessoas se descuidaram agora. "Criou-se uma falsa sensação de segurança."

Para tentar minimizar o surto do próximo verão, o Ministério da Saúde está repassando R$ 810 milhões a Estados e municípios para combater o mosquito transmissor da doença. O orçamento do Programa Nacional de Combate da Dengue é um dos mais altos da Saúde. Os recursos que a pasta está destinando neste ano aos remédios contra a aids, por exemplo, são de R$ 560 milhões.

Técnicos de 170 cidades de todo o País estão sendo capacitados pelo ministério para identificar os bairros onde há mais criadouros do mosquito para, antes do verão, eliminar os focos. "Temos de nos antecipar", diz o secretário nacional.

Os sintomas da dengue clássica são semelhantes aos de uma gripe. A dengue hemorrágica é caracterizada por alterações na coagulação do sangue e pode levar à morte.