Título: 'Podem apurar, apurar, apurar. Isso não vai chegar em mim e no Planalto'
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A12

Em encontro com cúpula da UNE, presidente Lula garante que não será alcançado pela onda de denúncias de corrupção

Em audiência no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem à cúpula da União Nacional dos Estudantes (UNE) que a onda de denúncias de corrupção não chegará a ele. "Podem apurar, apurar, apurar. Isso não vai chegar em mim e no Palácio do Planalto", disse Lula, segundo relato do presidente da UNE, Gustavo Petta. "As investigações devem ser feitas: não estou envolvido nisso." A UNE informou a Lula que pretende reunir 10 mil estudantes na Esplanada dos Ministérios no próximo dia 16, mas deixou claro que a manifestação só lembrará o movimento dos caras-pintadas de 1992, que foi às ruas pedir o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Em entrevista após a audiência, Petta disse que não é hora de lançar o "Fora Lula".

"Naquela época, lutávamos contra um governo que comandava um processo de privatização", afirmou o presidente da UNE. "Até o momento, não existem provas do envolvimento de Lula com o esquema de corrupção."

A nova geração de caras-pintadas pedirá apenas uma reforma política com financiamento público e integral de campanhas. "Se essa reforma não sair agora, não sai nunca", avaliou Petta. Em 1992, a UNE não tinha ligações com o governo. Também não comandava todas as manifestações dos estudantes secundaristas, que ocorreram nas capitais e em cidades de médio e grande porte.

MISSÃO ESPINHOSA

Ao empossar o novo ministro da Educação, Fernando Hadad, Lula reconheceu ontem que a nova missão de Tarso Genro, agora na presidência do PT, será uma tarefa "tão ou mais espinhosa do que a de ser ministro da Educação". Após a cerimônia, Tarso acrescentou: dizer que a missão é espinhosa "é carinho".

No seu discurso - parte lido, parte de improviso -, Lula admitiu, nas entrelinhas, que a estratégia usada até então pelo governo para lidar com o Congresso estava errada. E recomendou a Haddad engajamento de toda a equipe e corpo-a-corpo com os parlamentares para garantir a aprovação da reforma universitária. Para ele, a proposta "não é do governo, mas da sociedade".

Lula recomendou que, a partir da semana que vem, Haddad, sua equipe e os reitores das universidades federais marquem audiência com cada partido, dentro do Congresso - "não apenas com o líder, mas com cada bancada representada no Congresso" - para apresentar a reforma.

E ainda sugeriu: "Não conversem apenas com os líderes ou com um representante da bancada, porque poderão incorrer no equívoco de discutir com um deputado que não é o que mais entende de educação naquela área das universidades brasileiras".

Sem se referir à crise política que paralisou as votações no Congresso, o presidente Lula assegurou que há condições para aprovar as reformas. "Eu acho que há vontade política dos deputados e, portanto, esse é o passo importante na nossa tão sonhada reforma universitária", frisou.

CRISTOVAM

Sem citar o nome do antecessor de Tarso - o ex-ministro e senador Cristovam Buarque (PT-DF) -, o presidente Lula o criticou, indiretamente, ao citar as dificuldades que eram encontradas anteriormente para reunir todos os reitores.

De acordo com o presidente, na administração Tarso, "os interesses corporativos não foram levados em conta".

Lula declarou ainda que, durante toda a década de 90, uma única universidade pública federal foi criada - a de Tocantins - e todas se concentravam nas capitais.

Em seguida, o presidente avisou que ainda vai inaugurar várias universidades e extensões de universidades no interior, inclusive em Garanhuns (PE), sua terra natal.

FUTURO

Ao analisar a proposta de reforma universitária, o presidente defendeu o ponto do projeto que propõe elevar de 25% para 40% o número de matrículas em universidades públicas até 2012.

Ele anunciou que, nos próximos quatro anos, 400 mil alunos estarão estudando nas universidades privadas, beneficiados pelo Prouni.

O presidente aproveitou o discurso para elogiar o novo ministro e justificou a nomeação de Haddad, ex-secretário-executivo do ministério, usando mais uma expressão do mundo do futebol: "Em time que está ganhando não se mexe."