Título: Enciumados, os sem-CPI saem à caça de holofotes
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A11

O sucesso de público alcançado pela transmissão ao vivo pela TV das sessões da CPI dos Correios dividiu deputados e senadores em duas categorias. Na primeira, em minoria, estão os com-CPI; na segunda, maioria absoluta, encontram-se os sem-CPI. "Passei 10 dias no Chile, voltei e não tenho o que fazer. Vou conversar com meu líder na semana que vem para encontrarmos formas de buscar uma agenda de atuação partidária. Tenho de encontrar alguma forma de aparecer", reclama o deputado Pauderney Avelino (AM), vice-líder do PFL.

Os sem-CPI vagam pelo Congresso como zumbis. Passeiam à vontade pelos salões Verde, da Câmara, e Azul, do Senado, sem que os jornalistas nem sequer se aproximem. Eles não têm cópia de cheque ou documento para vazar. Em tempos de comissão de inquérito, os com-CPIs, com seus documentos e cálculos, concentram todas as atenções.

O deputado Pompeu de Mattos (PDT-RS) costumava fazer longos discursos, sem nenhuma repercussão. Agora, que é com-CPI, anda o tempo todo cercado de repórteres. Funcionário do Banco do Brasil, ganhou a simpatia de todos, por destrinchar pilhas de documentos bancários.

"Estamos sem produzir nada há três meses, sem pauta propositiva", queixa-se o senador Paulo Paim (PT-RS), sem-CPI. "Os parlamentares da CPI cumprem o seu papel. Por que os outros 500 não trabalham na reforma política, na tributária e numa política para o salário mínimo? Estou me sentindo frustrado. Me deixem trabalhar." Dizendo-se angustiado, Paim diz que está recebendo salário sem trabalhar há pelo menos três meses.

APARÊNCIA

Por causa da CPI dos Correios, os parlamentares estão atentos ao visual. A senadora Ideli Salvatti (PT-RS), por exemplo, só veste terninhos e não peca na combinações das cores.

Já o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR) levou bronca de um amigo de seu pai, o ex-deputado Maurício Fruet, porque tirou o paletó durante uma sessão da CPI. "Não agüentava de calor e tirei o paletó. Não demorou, o amigo de meu pai ligou para dizer que não ficava bem tirar o paletó na frente das câmeras", relatou o tucano.

O senador Mão Santa (PMDB-PI) já pensa numa solução para que os sem-CPI não fiquem de fora da mídia. "A gente pode atrair de novo a atenção para a Câmara e para o Senado. É só pegar as acusações que já existem contra alguns parlamentares e abrir o processo no Conselho de Ética. Enquanto a CPI faz suas investigações, a gente adianta o processo de cassação", sugere.