Título: Ex-mulher de Daniel diz não saber de corrupção
Autor: Fausto Macedo, Marcos Rogério Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A8

Para promotores, ela não foi depor para colaborar com a Justiça, mas com o propósito de não ser futuramente incluída como fonte para possível incriminação de terceiros

Mirian Belchior, subchefe da Casa Civil, prestou depoimento ontem por mais de quatro horas ao Ministério Publico Estadual, que investiga a morte do então prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), em 2002. Para os promotores Amaro Thomé Filho e Roberto Wider Filho, ela "não foi depor com o propósito de colaborar com a Justiça, mas com o propósito de não ser futuramente incluída como fonte para uma possível incriminação de terceiras pessoas". Ela confirmou um encontro com o médico oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, ocorrido dias depois do crime, em janeiro de 2002. Segundo Miriam, durante a conversa, João Francisco mencionou questões relacionadas à empresa Expresso Guarará - suposta vítima de extorsão de um grupo de empresários e políticos que teriam assumido o poder de setores da administração municipal - e teria pedido para que se desse "certa atenção ao caso".

Miriam contou aos promotores que sugeriu ao irmão do ex-prefeito que "apurasse melhor os fatos" e procurasse o secretário municipal de governo, Gilberto Carvalho, hoje secretário particular do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Mulher de Celso Daniel entre 1985 e 1993 e que ocupava o cargo de secretária municipal de Inclusão Social, ela negou, entretanto, que tenha tido qualquer informação sobre corrupção na prefeitura de Santo André. De acordo com depoimento anterior de João Francisco, ela saberia, sim, de irregularidades, tanto que em setembro de 2001 teria pedido a Celso Daniel para deixar o governo por esse motivo. "Ela confirmou para nós que pediu para sair do cargo, mas, segundo ela, não por causa da corrupção, e sim porque estaria interessada em fazer um curso de doutorado", contou o promotor Roberto Wider Júnior.

"Ela não acredita na tese de que Celso Daniel tenha sido morto por ter descoberto o esquema de corrupção por uma questão óbvia: ela nega veemente que existisse corrupção", explicou Wider Júnior. "Queríamos ouvi-la para que ela detalhasse os últimos dias de Celso Daniel, mas ela não contribuiu em quase nada." Miriam deixou o prédio do MP sem dar entrevistas.

Ela admitiu "divergências pontuais" com o então secretário municipal de governo, Klinger Luiz de Oliveira Sousa. "Klinger tinha uma postura desrespeitosa com parte dos demais secretários, comportamento que a desagradava", foi um dos trechos anotados na transcrição do depoimento.