Título: Interpol vai investigar nova Operação Uruguai
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A6

Objetivo é verificar atuação da Guaranhuns, empresa que seria uma das ligações entre o Banco Rural e Marcos Valério

A CPI dos Correios decidiu acionar a Interpol (Polícia Internacional) para rastrear no Uruguai a Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações S/C Ltda., empresa que seria o braço de uma conexão entre o Banco Rural e o publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza para remessas de valores a paraísos fiscais. É a primeira vez que a CPI recorre à Interpol nas investigações sobre suposto esquema de propinas nos Correios e a indústria do mensalão. A Interpol te representações em quase todo o mundo - seus dirigentes se comunicam freqüentemente para troca de informações, alerta sobre criminosos do colarinho-branco e mafiosos, identificação de sociedades de fachada e localização de fortunas ilícitas.

A Guaranhuns sacou mais de R$ 7 milhões no Rural, de uma conta movimentada pela SMPB Comunicações, agência de Valério. A CPI suspeita que a Guaranhuns é uma empresa de fachada. Registros oficiais indicam que 99% do seu capital pertence à Esfort Trading S.A., offshore sediada em Montevidéu. O restante das cotas está lançado em nome de José Carlos Batista, com residência declarada no município de Santo André, Grande São Paulo. Batista seria laranja, ou seja, apenas teria emprestado seu nome para dar vida jurídica à Guaranhuns em território nacional.

"Isso é lavagem de dinheiro", aponta o senador Romeu Tuma (PFL-SP), que tomou a iniciativa de mobilizar a Interpol. Com larga experiência no mundo policial, ao qual serviu por mais de 40 anos, ele suspeita que está diante de um caso clássico de remessa ilegal de divisas. "Não adianta perder tempo com o sócio que tem 1% do capital. A gente precisa saber quem são os donos dessa offshore, esse é o passo decisivo."

Ontem, Tuma ligou para o diretor-geral da Polícia Federal, delegado Paulo Lacerda, e pediu que fizesse contato imediatamente com a Interpol. "Não se trata de pedir quebra de sigilo em outro país, mas identificar quem são os sócios efetivos da Guaranhuns", explicou.

ANISTIA

Tuma fez pesadas críticas à "inexplicável lentidão das investigações" sobre Valério. "Estão querendo paralisar a CPI, a intenção é engessar a CPI", acusou. "Querem amedrontar os parlamentares com essa história de que a CPI pode trazer instabilidade para a economia." Ele não citou nomes, mas se referia ao presidente Lula, que na quinta-feira disse que a economia é "muito vulnerável".

O senador condenou quem fala em ameaça à governabilidade. "Isso é conversa mole, ainda ontem vi na TV o presidente do Banco Central (Henrique Meirelles) falando que a economia vai muito bem. O Antonio Palocci (ministro da Fazenda) está sempre dando entrevista sobre nossa economia estável e forte."

Ele garantiu que a CPI não está paralisando o Congresso. "É só o presidente pôr na pauta, a CPI não atrapalha nada", reiterou. "O Congresso pode ter seu andamento absolutamente normal, independentemente da CPI." Tuma insistiu na necessidade de prisão do suposto condutor do mensalão. "Está demorando demais", adverte. "Estão querendo que ninguém mais seja investigado, querem arrumar uma anistia geral."