Título: Valério cobrava comissão sobre repasses, avalia CPI
Autor: Ribamar Oliveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A6

Técnicos dizem que, pelos saques em 'valores quebrados', publicitário ganhava porcentagem sobre o dinheiro de empresas privadas que enviava a políticos

Os técnicos que auxiliam os integrantes da CPI dos Correios acreditam que podem provar que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza cobrava comissão pelo repasse que fazia de recursos de empresas privadas a políticos. A investigação está concentrada no rastreamento dos saques feito no Banco Rural em "valores quebrados" - aqueles que possuem até os centavos especificados. O deputado Roberto Brant (PFL-MG), por exemplo, recebeu R$ 102.812,76 da SMPB em saque feito por Nestor Francisco de Oliveira, no Banco Rural. Nestor foi arrecadador de doações à campanha de Brant à prefeitura de Belo Horizonte. Brant alega que o presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, prometeu doar R$ 150 mil à sua campanha, mas que terminou recebendo bem menos porque Marcos Valério teria cobrado sua comissão.

Newton Vieira Filho, coordenador financeiro da campanha de João Carlos Belo Lisboa, do PSDB, à prefeitura de Nova Lima, sacou dois cheques: um de R$ 171.350,00 e outro no valor de R$ 171.354,60. Antônio Fausto da Silva Barros sacou R$ 44.552,20 e disse que o dinheiro era uma doação do presidente da Usiminas para a campanha de Galileu Teixeira, do PMDB, à prefeitura de Divinópolis.

Até agora, os técnicos da CPI já identificaram 56 cheques de "valores quebrados" emitidos pelas empresas de Marco Valério no Banco Rural, no período de 2000 a 2005. Doze saques de "valores quebrados" também foram feitos na boca do caixa do Banco Rural por assessores de políticos.

Os técnicos da CPI querem descobrir agora se as empresas de Marcos Valério emitiram notas fiscais nos valores dos repasses aos políticos, como se os pagamentos realizados pelas empresas privadas tivessem sido por serviços de publicidade. Depois que as notas fiscais forem localizadas, os técnicos verificarão se as empresas de Valério realizaram efetivamente os serviços de publicidade alegados.

Os integrantes da CPI acham que se essa hipótese for confirmada, os técnicos poderão até mesmo descobrir o porcentual de "comissão" que o empresário supostamente cobrava pelo repasse dos recursos. "Os dados que chegaram à CPI fortalecem essa linha de investigação", disse ontem o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

A maioria absoluta dos saques no Banco Rural, no entanto, foi feita em "valores redondos", ou seja, saques de R$ 200 mil, R$ 120 mil, etc. A desconfiança dos técnicos é de que, neste caso, os recursos não são originários de empresas privadas diretamente para campanhas de políticos.