Título: Valério financiou muitos, diz petista
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A5

O deputado mineiro João Magno conta que pegou R$ 50 mil com Marcos Valério em 2003 para pagar dívidas de sua campanha

O depoimento exclusivo dado ao Estado por um dos deputados do PT que receberam dinheiro das empresas de Marcos Valério contradiz a versão apresentada pelo publicitário mineiro de que a origem dos recursos eram empréstimos bancários e que tudo foi concebido no início de 2003, exclusivamente para atender a um pedido do ex-tesoureiro Delúbio Soares. O petista João Magno de Moura, deputado por Minas e ex-prefeito de Ipatinga, admite que recebeu R$ 50 mil em 2003 para pagar dívidas de campanha e diz que muitos outros políticos - de dentro e fora do PT - também receberam doações de Valério e o ajudaram a fazer contatos no novo governo, mas prefere não citar nomes. "Não é porque estou no meio da fogueira que vou puxar mais gente para a fogueira comigo. Não vou citar nomes, mas tem muito mais gente", disse João Magno, declarando-se disposto a falar toda a verdade e provar que nada que fez foi para enriquecimento pessoal. "Não declarei. Não digo que a gente não deva respeitar a lei, mas, se não jogar as regras do jogo, tem de deixar a política", afirma o petista. "Se não fizesse assim, continuaria devendo. Sei que errei, mas não levei dinheiro da população."

Segundo ele, Valério é um velho conhecido seu, que prestava serviços para empresas de Ipatinga, como a Usiminas. Na época em que Magno foi prefeito da cidade, entre 1993 e 1996, o publicitário chegou a oferecer seus serviços, mas não houve acerto. No final de 2002, com a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se aproximou dos antigos conhecidos do PT, como Magno e seu colega de bancada, Virgílio Guimarães.

"Foi quando perguntei se era possível ele liberar algum dinheiro para pagar dívidas da minha campanha. Ele disse que dependia de ter o consentimento do Delúbio. Ele não entregaria dinheiro sem ter autorização do PT", lembra o deputado, acrescentando que soube de outras parlamentares na mesma situação. "O Marcos Valério me disse que tinha mais gente recebendo, pessoas que estavam ajudando a estabelecer um diálogo com o governo."

Em seguida, ainda em 2002, o petista teria procurado Delúbio para pedir socorro financeiro. "Disse que ia ver o que era possível fazer. Naquele momento, achei uma providência bastante solidária dele", recorda. "Esse assunto não era discutido no diretório estadual, mas cada deputado sabia que existia essa fonte de ajuda."

João Magno diz que nunca ouviu falar que o dinheiro viria de empréstimo e que toda a estratégia de captação era antiga, da época em que o tucano Eduardo Azeredo era governador. "Sinto que era dinheiro da empresa, mas não conheço os detalhes nem desdobramentos. Jamais pensei que o Marcos Valério fosse se lambuzar tanto."

O deputado conta que foi ele quem no final de 2002 apresentou a Valério o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara. E foi ele quem teria intermediado o primeiro encontro de Valério e seu sócio, Cristiano Paz, com o deputado José Mentor (PT-SP), no primeiro semestre de 2003, quando era relator da CPI do Banestado, que investigava a evasão ilegal de divisas em bancos por meio das contas CC-5.

"Eu disse ao Mentor, no plenário, que um empresário de Minas havia estado no meu gabinete e queria falar com ele sobre o Banco Rural, e eles marcaram um encontro", diz Magno, contrariando a versão do ex-relator da CPI (que recebeu R$ 120 mil de uma das empresas de Valério) de que o único assunto que tratou com Valério e seus sócios foi sobre campanhas eleitorais e assessorias jurídicas.

A CPI do Banestado chegou a reunir várias provas contra o Rural, mas o relatório final de Mentor não fez menção a elas. O próprio Magno conta como Valério era bem relacionado com a diretoria do banco e participou de articulação feita pelo fundador do Rural, Sabino Corrêa Rabello, para tentar convencer o Ministério de Minas e Energia a apoiar projeto privado de extração de nióbio em Roraima. "Fiz duas reuniões com ele no início de 2003, o projeto era bom para o País, mas não prosperou."