Título: Na PF, assessor de Janene diz que levava dinheiro para deputados do PP
Autor: Vannildo Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/07/2005, Nacional, p. A4

João Cláudio Genu, assessor do partido, admite ter feito retiradas das contas de Valério, a mando de Pedro Corrêa e Pedro Henry

O servidor público João Cláudio Genu, assessor do deputado José Janene (PP-PR), confirmou ontem, em depoimento à Polícia Federal, que fez várias retiradas das contas do empresário Marcos Valério de Souza a mando do chefe e do presidente do partido, deputado Pedro Corrêa (PE). Em menor escala, ele citou também o ex-líder do partido, Pedro Henry (MT), como conhecedor das operações. Os saques, conforme informou, eram feitos por Simone Vasconcelos, diretora financeira da agência de publicidade SMPB, de Valério. O dinheiro era entregue por Simone em mãos a Genu, dentro da agência do Banco Rural no Brasília Shopping, na capital do País, segundo informou a procuradora da República Raquel Branquinho, que acompanhou o depoimento. Genu, que depôs por mais de cinco horas, saiu das PF pouco depois das 21h, em companhia do advogado, sem falar com a imprensa. Aos delegados e procuradores que acompanham o caso, ele revelou que algumas vezes a ordem para ir ao banco vinha direto dos dirigentes do PP e, em outras, era dada por Barbosa, funcionário da Tesouraria do partido, cujo primeiro nome ele disse não se recordar. Nessas situações, Genu informou que confirmava a ordem com Janene ou Corrêa antes de ir buscar o dinheiro.

Genu garantiu à polícia que era mero transportador dos recursos, os quais entregava à tesouraria do PP, no 17º andar do anexo 2 do Senado, atuando como uma espécie de mula. "Ele declarou que recebia os envelopes com o dinheiro, não conferia, punha tudo dentro da mala e entregava na tesouraria do partido", relatou Branquinho.

A procuradora considerou "bom" o depoimento, mas não o suficiente para caracterizar a existência do mensalão. "O depoimento constitui materialidade, não do mensalão, mas de que houve saques na conta de Valério, recebidos por Genu para serem entregues aos dirigentes do PP", resumiu a procuradora. Embora tenso, Genu não deixou de responder a nenhuma pergunta. Ele disse nada saber sobre a finalidade do dinheiro - se era para mensalão, formação de caixa 2 ou para enriquecimento pessoal dos dirigentes do PP - pois sequer participava das reuniões do partido. Informou também que é funcionário de carreira do Ministério da Agricultura, cedido ao gabinete de Janene, onde trabalha como assessor.

Segundo seu relato, Genu recebia ordens diretamente de Corrêa ou de Janene, mas, em alguns trechos, citou também Pedro Henry. Não soube precisar quantas vezes foi ao banco e nem avaliar o volume movimentado desde 2003, quando começaram suas visitas ao banco.

SIMONE, A PRÓXIMA

A PF deverá ouvir Simone na segunda-feira, em Belo Horizonte, e identificar as pessoas para as quais ela entregou um montante que a CPI dos Correios estima em 6,7 milhões, sacado das contas de Valério. No primeiro depoimento, há um mês, Simone mentiu sobre os valores e alegou não se lembrar de nenhuma das pessoas para quem repassou o dinheiro. Conforme as investigações, ela sacava os recursos na boca do caixa, na agência do Brasília Shopping, e os repassava a beneficiários listados em mensagem que o banco mandava via fax desde sua sede, em Belo Horizonte. A análise preliminar dos fax indica que entre 30 e 40 deputados e senadores teriam se beneficiado desses saques.

Nos casos em que o dinheiro foi sacado por Simone, ela se encarregava de anotar o nome do beneficiário e o valor do pagamento no verso do fax. Mas em alguns desses registros os nomes foram riscados por ela - é o caso do deputado Carlos (Bispo) Rodrigues e do ex-tesoureiro do PL, Jacinto Lamas. O deputado Josias Gomes (PT-BA) foi o único a assinar de próprio punho o recibo de um saque de R$ 100 mil.

As informações de Simone são consideradas fundamentais para a planilha que a PF está montando, destinada a conferir a periodicidade dos saques e estabelecer se houve mensalão ou outros tipos de pagamento, como "luvas" a parlamentares pela trocas de legenda. O dinheiro poderia também ser para compra de apoios nas votações de interesse do governo, ou para reforçar o caixa 2 de partidos políticos.