Título: CPI liga mais 4 deputados a esquema de Valério, incluindo ex-líder do PT
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Nacional, p. A8

BRASÍLIA - As investigações da CPI dos Correios confirmaram ontem os nomes de mais quatro deputados envolvidos com o dinheiro do publicitário Marcos Valério: Romeu Ferreira de Queiroz (PTB-MG), João Magno Moura (PL-MG), Vandeval dos Santos (PL-SP) e Professor Luizinho (PT-SP). A lista de parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão subiu para 12, e o número de partidos atingidos pelas denúncias de propina ou de caixa 2 já chega a sete. Dois dos novos nomes só foram detectados pelo auxílio dos técnicos do Banco Rural no rastreamento dos dados da quebra do sigilo bancário. Uma das agências de Valério, a SMPB, transferiu R$ 50 mil e R$ 29 mil, respectivamente, para as contas de Queiroz e Moura, entre 2003 e 2004.

O saque de R$ 20 mil feito por José Nilson dos Santos, assessor do Professor Luizinho, já havia sido detectado antes, mas só ontem o deputado petista admitiu tratar-se de seu funcionário. Já os R$ 150 mil retirados para o paulista Vanderval foi localizado em meio à papelada apreendida no Rural que estava de posse do Supremo Tribunal Federal (STF). O nome dele aparece na lista de pessoas que a SMPB encaminhava ao banco autorizando que retirassem dinheiro.

Pelos dados de posse da CPI, um assessor do PL de nome Célio esteve na agência de Brasília no dia 17 de dezembro de 2003, junto da diretora financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, e de lá saiu com R$ 300 mil na pasta: R$ 150 mil para Vanderval e R$ 150 mil para o deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ).

Os relatórios mostram ainda que os saques efetuados diretamente por assessores do PT ou de partidos aliados se concentram entre junho de 2003 e janeiro de 2004 e seguem uma rotina. Os primeiros beneficiados foram os petistas. A assessora do ex-líder do PT na Câmara, deputado Paulo Rocha (PA), conhecida por Anita Leocádia, por exemplo, consta como tendo feito cinco retiradas num intervalo de apenas 23 dias, em julho, quando sacou R$ 350 mil.

O deputado petista Josias Gomes da Silva (BA) compareceu pessoalmente para retirar duas parcelas de R$ 50 mil em 11 e 18 de setembro. O presidente do PT do Distrito Federal, Vilmar Lacerda, também esteve duas vezes na agência de Brasília, em setembro, para sacar R$ 100 mil.

Depois desses petistas é que a SMPB começou a liberar dinheiro para os partidos aliados. Só o ex-tesoureiro do PL Jacinto Lamas sacou R$ 1,65 milhão entre 23 de setembro de 2003 e 10 de janeiro de 2004. O chefe de Gabinete do deputado José Janene, João Cláudio Genu, aparece com tendo sacado R$ 850 mil no mesmo período.

Mas o esquema de repasses de dinheiro das agências de Valério para o PT começou a funcionar bem antes. No início de 2003, o publicitário e o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares fizeram uso de funcionários e seguranças da SMPB para sacar o dinheiro de forma centralizada.

Em Belo Horizonte, tudo indica que o dinheiro tenha sido sacado por um grupo de policiais civis que serviam de "mulas". Um deles, David Rodrigues Alves, participou de 22 saques, entre 11 de março de 2003 e 13 de maio, dos quais R$ 6,5 milhões foram recolhidos do Banco Rural. A freqüência do policial na agência era tanta - duas evzes por semana - que só ele consumiu um talão de cheques inteiro: do número 725329 ao 725345.

Em Brasília, a maior parte dos saques eram feitos pela própria diretora da SMPB. Simone retirou R$ 5,6 milhões em seu próprio nome e R$ 1,1 milhão em nome de outras pessoas.