Título: BC não dá sinais de queda do juro
Autor: Adriana Fernandes e Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B1

BRASÍLIA - Apesar de concluir que "vai-se configurando, de maneira mais definida, um cenário benigno para a evolução da inflação" nos próximos meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central ainda não deu sinais de que chegou a hora de iniciar a esperada redução das taxas de juros. É o que mostra a ata da reunião da semana passada, quando o Copom decidiu manter a taxa básica de juros (Selic) nos 19,75% ao ano que estão em vigor desde maio. Segundo o Copom, o momento é de consolidar as condições favoráveis para a queda da inflação. Divulgada ontem pelo BC, a ata não faz nenhuma referência à crise política, que já provocou turbulências no mercado financeiro. O documento destaca também que "a perspectiva de manutenção da atual taxa Selic por um período suficientemente longo" poderia criar as condições para levar a inflação para a meta de 5,1% perseguida pelo BC neste ano.

A frase já constava da ata da reunião de junho, quando o Copom manifestou uma visão bem mais cautelosa da situação econômica, e é um dos pontos do relatório que deixam dúvidas quanto à redução da Selic já na reunião de agosto, como apontavam alguns analistas.

A ata divulgada ontem, no entanto, tem um tom bem mais otimista que a do mês passado. Os diretores do BC observam que a maioria dos índices de preços tem subido menos e alguns até apresentam deflação, como o IPCA em junho, que caiu 0,02%. Eles dizem também que, apesar de incertezas com relação aos preços do petróleo, o cenário internacional é bastante favorável, o risco Brasil caiu e há pouca probabilidade de que essa situação venha a piorar.

A desaceleração dos índices de preços, revela a ata, já levou o Banco Central a reduzir sua estimativa para a variação do IPCA em 2005. A previsão agora é inferior aos 5,8% do Relatório de Inflação divulgado em junho. Para 2006, a inflação projetada pelo BC já está abaixo da meta de 4,5. Na ata divulgada ontem, porém, os diretores do BC chamam a atenção para o fato de que a trajetória da inflação dos próximos meses vai depender da ampliação da oferta de bens e serviços para atender a demanda.

O BC baixou também as previsões de aumento dos chamados preços administrados, como tarifas de telefone (de 8,6% para 6,5%) e energia elétrica (de 10,8% para 8,2%). E, apesar de as cotações do petróleo continuarem altas no exterior, manteve a estimativa de que a gasolina e o gás de botijão (GLP) não terão reajuste em 2005.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, comemorou o tom positivo da ata. Numa entrevista convocada para comentar o resultado das contas públicas, ele disse que a avaliação do Copom "é uma boa notícia também para o Tesouro pois permitirá acelerar a participação de títulos prefixados no total da dívida pública interna".