Título: Para analistas, escândalos não afetam diretrizes econômicas
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B3

A crise do mensalão não deve afetar a política monetária no curto prazo. Na opinião da maioria dos analistas, o Banco Central não deve brecar a redução dos juros por causa da crise, porque os escândalos ainda não tiveram reflexos significativos sobre a economia. "A incerteza política aumentou a volatilidade no mercado financeiro, mas não há nenhuma tragédia, tanto que não mudamos nenhuma previsão econômica", diz Paulo Hermanny, economista sênior da Itaú Corretora. Para Hermanny, a economia continua "descolada" da crise política e, por isso, os escândalos não influenciam a política de juros. Se a volatilidade se intensificar, ela terá um potencial inflacionário e pode deixar o BC mais cauteloso. "Mas ainda não é o caso", diz Hermanny. O contrário também não se aplica. A crise não causou nenhuma descaleração aguda na economia, que levasse o BC a reduzir mais vigorosamente os juros.

Jason Vieira, economista da GRC Visão, vai na mesma linha. "Ainda não houve efeitos significativos sobre a economia, a ponto de fazer o BC incluir os escândalos em seus cenários", diz o economista. Ontem, por exemplo, o dólar teve queda de 1,31% e encerrou o dia cotado em R$ 2,40. O risco país caiu 0,97%, chegando a 408 pontos e a Bovespa teve alta expressiva de 2,88%.

Por enquanto, as denúncias não envolvem diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Por isso os investidores não entraram em pânico. No pior dos cenários, caso houvesse impeachment ou envolvimento do centro do poder, o BC seria forçado a elevar os juros bruscamente para conter a desvalorização do real e evitar a fuga de capitais.

A diretora de risco soberano da Standard and Poor's (S&P), Lisa Schineller, acha que a dinâmica política atual no Brasil é "frágil", mas a crise mostra um fortalecimento institucional do País. "O fato de as investigações estarem ocorrendo de uma forma bastante pública é uma mostra de fortalecimento das instituições no Brasil", disse Lisa. Segundo ela, a perspectiva para uma melhora imediata na classificação de risco soberano do Brasil está limitada pela dinâmica política no País, mas isso não impede a manutenção do rating em seu atual patamar.

Há economistas mais preocupados. Para o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernando Cardim de Carvalho, as denúncias são tão sérias que podem afetar as expectativas dos investidores e provocar uma fuga de ativos do País. "Pode haver uma crise de confiança e alta forte do câmbio, o que elevaria os preços de produtos de consumo e aumentaria a inflação. Tal movimento levaria o BC a ser ainda mais conservador."