Título: Dívida externa será paga antes do prazo
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B4

BRASÍLIA - O governo anunciou ontem a intenção de reduzir em US$ 2,8 bilhões a dívida externa nos próximos dois anos. O objetivo é reforçar a blindagem da economia nestas horas de crise política. O pagamento será feito com as reservas internacionais. Hoje, o endividamento externo do governo federal soma US$ 70 bilhões. Para o secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, a medida sinaliza ao investidor a intenção do Brasil de reduzir a sua vulnerabilidade. "Quanto maior a queda da relação entre o serviço da dívida externa e as exportações, mais favorável é a percepção dos investidores sobre o País', destacou o secretário ao anunciar o novo plano de financiamento da dívida externa para 2006 e 2007. Foi também a primeira vez que o governo federal anunciou um programa de dois anos.

O plano prevê a redução, de US$ 11,8 bilhões para US$ 9 bilhões, da necessidade de captações externas de dólares que o governo precisará fazer nos próximos dois anos para pagar a parte principal da dívida externa que vence nesse período. Esses recursos são obtidos pelo Tesouro por meio de lançamentos de títulos da dívida externa no mercado internacional.

Nos últimos anos, o governo emitiu títulos no montante equivalente a 100% do principal a vencer mais os juros. Com a decisão de ontem, o refinanciamento do principal da dívida será de 80% em 2006 e 2007. Os 20% restantes serão quitados com as reservas. No período, o governo precisará de mais US$ 14 bilhões para pagar os juros.

Segundo Levy, o Tesouro poderá, neste segundo semestre, antecipar as captações previstas para 2006 e 2007, já que completou o cronograma deste ano, de US$ 6 bilhões. "O momento exato das captações ainda não está definido", disse.

Ele avaliou que a decisão tem o objetivo de reduzir a dívida externa, além de melhorar a sua composição e a qualidade de seus papéis. "É uma evolução natural na gestão da dívida pública após os trabalhos, nos últimos dois anos, de redução da exposição cambial da dívida interna', disse. A dívida interna corrigida pelo taxa de câmbio já caiu de 40% para 4,12% no governo Lula . "É natural que agora comecemos a diminuir a dívida externa", acrescentou.

Na semana passada, o governo conseguiu um avanço importante ao trocar US$ 4,4 bilhões de títulos C-Bonds por novos papéis. Levy disse que a troca foi bem recebida no mercado por causa do desenho da operação. "E vai nessa linha o nosso raciocínio para desenhar o programa para financiamento da dívida externa no próximo biênio", afirmou.