Título: Sindicatos pedem cota para negros
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B5

Depois da cota para alunos negros nas universidades, grandes categorias de trabalhadores querem incluir esse sistema na contratação de funcionários da indústria e do comércio. A reserva de vagas para afrodescendentes ou não brancos entra na pauta de negociações de campanhas salariais dos comerciários e metalúrgicos, ao lado de reivindicações de aumento real, participação nos lucros e redução de jornada. O Sindicato dos Comerciários de São Paulo, representante de 400 mil trabalhadores no Estado, quer que 30% das novas vagas sejam preenchidas por funcionários não brancos. No fim do ano passado, a reivindicação foi aceita por grandes redes de supermercados, que empregam cerca de 100 mil pessoas. Este ano, a entidade quer estender o acordo para os demais segmentos do comércio, incluindo shopping centers.

"Nos shoppings, no máximo 1% dos funcionários é de negros e essa participação precisa ser ampliada, pois cerca de 30% da população da cidade de São Paulo são negros", afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato, que é ligado à Força Sindical. Algumas redes de varejo, como a Camisaria Colombo e a Casas Bahia já adotam o sistema de cotas.

Os metalúrgicos de São Paulo, categoria formada por 230 mil trabalhadores no Estado, também insistem na reivindicação. Em 2004, quando o tema apareceu pela primeira vez nas negociações, nenhuma empresa assumiu o compromisso. "Algumas delas, como as montadoras, alegam que diversificar seria discriminação", diz o presidente da Federação dos Metalúrgicos da CUT, Adi dos Santos Lima. "Mas vamos insistir."

Os metalúrgicos pedem que, nas novas contratações, sejam garantidas 10% das vagas para negros. Também reivindicam cota de 10% para jovens sem experiência, 10% para pessoas com mais de 40 anos de idade e 10% para mulheres. A Federação da Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) não comentou o assunto ontem.

A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio) informou que só vai se pronunciar após receber a pauta dos comerciários, na segunda-feira. "Vamos organizar uma passeata para entregar a pauta", informa Patah, também preocupado com o excesso de hora extra na categoria.

Por iniciativa própria, a Camisaria Colombo foi a primeira empresa brasileira a formalizar o sistema de cotas para funcionários negros. Em dezembro de 2003, a rede assinou protocolo com o Sindicato dos Comerciários e se comprometeu a manter pelo menos 20% de negros no quadro funcional.

Desde então, a participação de negros na mão-de-obra da rede subiu de 18% para 25%. Desse total, 33% respondem por cargos de gerência. Um deles é Fabio da Cruz Santos, de 29 anos. Ele é gerente da loja da Avenida Paulista, onde trabalham 48 pessoas, cerca de 30% negras.

"Quando foi feita a parceria com o sindicato, achei inicialmente que era uma medida que subjugava e denegria a raça. Depois, percebi que muitos não brancos passaram a ter oportunidades de mostrar seu verdadeiro potencial", diz o gerente, que hoje vê na medida chances de crescimento profissional. "O empresário que não perceber isso vai perde a chance de ter bons profissionais."

Além das universidades, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), defendeu recentemente a adoção de cotas para negros em concursos públicos. Segundo ela, o assunto está sendo estudado por um grupo da secretaria e dos Ministérios do Trabalho e da Educação.