Título: Negociação na OMC custará caro ao Brasil
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B7

GENEBRA - O Brasil terá de fazer amplas concessões na abertura de seu mercado para bens industriais e serviços aos países ricos se quiser que a Rodada de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) apresente algum avanço a partir de setembro, quando os debates serão retomados em Genebra. Esse foi o recado dos Estados Unidos e da União Européia que já deixaram claro que vão cobrar um preço dos países emergentes na fase final das negociações. Ontem, o diretor-geral da OMC, Supachai Panitchpakdi, fez uma crítica velada ao Brasil e outros países emergentes que condicionam qualquer flexibilidade no setor industrial a avanços na agricultura.

A OMC teria até hoje para fechar um acordo de princípios sobre como ocorreria a liberalização. Esse entendimento serviria de base para o acordo que teria de ser feito em dezembro na reunião ministerial de Hong Kong. Mas com os EUA impedidos de fazer qualquer concessão diante da aprovação de um acordo comercial com a América Central no Congresso e com a UE se recusando a fazer novas aberturas enquanto Washington não se movesse, o processo em Genebra fracassou de novo.

"Estou desapontado", disse Supachai. Mas ele, que deixa seu cargo em um mês, acha que o momento não pode ser visto como um desastre e acha que pelo menos agora os governos sabem quais são áreas críticas.

Para Clodoaldo Hugueney, que lidera a delegação brasileira nas negociações nesta semana, o País sempre esteve pronto para negociar os produtos industriais. "São os demais países que não estavam preparados em setores como agricultura." Supachai retrucou: "Não concordo que o capítulo agrícola não avançou."

No setor de cortes de tarifas para a agricultura, o Brasil alega que a única proposta real sobre a mesa é a do G-20, grupo de países emergentes. Pela proposta, todas as tarifas de importação teriam um teto de 150%. Ontem, os europeus indicaram que até aceitariam um teto, mas que outros países, como os EUA, deveriam se comprometer em reduzir seus subsídios. Bruxelas também aceitaria eliminar seus subsídios a exportação, mas outra vez condicionado a iniciativas que seriam tomadas pelos americanos.

Dos países em desenvolvimento, o comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, espera que o pagamento por um maior acesso ao mercado de Bruxelas seja um corte nas tarifas no setor industrial, além de uma maior liberalização em serviços como telecomunicações e financeiros.

Hugueney, porém, insiste que a proposta de cortes tarifários para produtos industrializados apresentado pelo País "é a melhor opção".

Para os países ricos, a idéia não é suficiente pois não gerará cortes profundos nas tarifas de importação dos países emergentes. "Queremos aberturas genuínas nas economias que mais crescem e que são as dos mercados emergentes", disse Peter Allgeier, negociador americano.