Título: UE quer classificar o País para evitar novas concessões
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B7

GENEBRA - As maiores associações de fazendeiros europeus querem que o Brasil seja considerado país desenvolvido nas negociações agrícolas globais e são contra a conclusão de um acordo entre a União Européia (UE) e o Mercosul antes da conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), prevista para o fim de 2006. "É impensável fazer acordo com o Mercosul, com concessões da Europa, e outro na OMC, com mais concessões. Não podemos abrir duas vezes nossos mercados ao Brasil", afirmou Rudolf Schwarzbock, presidente do Comitê das Organizações Agrícolas Profissionais da UE.

Ele lembrou que as exportações agrícolas brasileiras estão crescendo 20% ao ano. "São taxas impressionantes", disse. Em sua avaliação, o impasse nas negociações entre Mercosul e UE decorre da "intransigência" do Brasil em abrir seu mercado. O processo está parado desde outubro de 2004.

O comissário de Comércio da UE, Peter Mandelson, disse ontem esperar que o debate seja retomado em setembro. Uma das opções é aguardar o fim das negociações na OMC, em dezembro, para tentar o acordo regional já sabendo o que ocorre no âmbito multilateral. "Há várias opções e vamos avaliá-las no início de setembro", afirmou o comissário.

Os fazendeiros acham que o Brasil, seja qual for o acordo, deveria deixar de ser considerado país em desenvolvimento diante de seu crescimento agrícola. Indagados sobre os problemas sociais do País, eles responderam que a culpa não pode ser atribuída aos outros. "Se a repartição dos ganhos das exportações do Brasil é mal feita, não é culpa da Europa", afirmou Schwarzbock.

"Se a UE parasse de plantar e o Brasil passasse a fornecer toda a alimentação européia, ainda assim não acredito que seriam os pequenos fazendeiros brasileiros que ganhariam e sim as grandes famílias e as próprias multinacionais européias instaladas no País", afirmou o presidente da entidade.

Os fazendeiros ainda partem para o ataque contra a situação social e ambiental no País, considerada "indecente". "Muitos no Brasil ganhariam se o País adotasse o modelo social europeu e os próprios agricultores brasileiros nos dizem isso. Agora, ninguém ganhará nada se adotarmos o modelo brasileiro", disse Schwarzbock.

Para ele, os ganhos nas exportações nacionais estão ocorrendo "às custas dos pequenos trabalhadores rurais e das florestas".