Título: Câmara dos EUA aprova o Cafta
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/07/2005, Economia & Negócios, p. B7

WASHINGTON - Depois de semanas de um dos mais intensos trabalhos de lobby do Congresso já visto em Washington, a Câmara de Representantes ratificou ontem de madrugada o Cafta - o acordo de livre comércio dos Estados Unidos com Guatemala, Nicarágua, El Salvador, Honduras,Costa Rica e República Dominicana. O tratado, aprovado pelo Senado, passou na Câmara por apenas dois votos de diferença (217 a 215), graças ao deputado Robin Hayes.

Republicano de um distrito da Carolina do Norte dependente da indústria têxtil, que se considerava ameaçado pela Cafta, Hayes mudou seu voto, sob intensa pressão da Casa Branca, nos minutos finais da votação.

Apenas 15 democratas apoiaram o acordo. E nada menos do que 27 republicanos, de distritos economicamente dependentes das indústrias têxtil e de açúcar, votaram contra.

"O Cafta é muito mais do que um tratado comercial", festejou George W. Bush, que, pela manhã, foi pessoalmente ao Capitólio para batalhar pela ratificação do acordo.

O ministro do comércio exterior (USTR), o ex-deputado Rob Portman, não disfarçou seu alívio. "Francamente, se o acordo tivesse sido derrotado, teria feito minha vida muito mais difícil", disse, referindo-se às implicações negativas que a rejeição do Cafta teria para a credibilidade dos Estados Unidos nas negociações da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC).

A líder da minoria democrata na Câmara, Nancy Pelosi, disse que o Cafta "é um retrocesso para os trabalhadores da América Central e um assassino de empregos aqui nos EUA". Os democratas prometem usar o voto favorável ao Cafta como munição eleitoral contra os republicanos, para tentar retomar a maioria na Câmara.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que terá a partir de outubro como presidente o colombiano Luis Alberto Moreno, próximo da administração Bush, saudou a ratificação do Cafta como "um novo impulso" às negociações regionais que estão paradas, entre elas a da Área de Livre Comércio das Américas (Alca).

A aprovação do Cafta, de fato, permitirá à administração americana concretizar seu plano de recolocar a Alca no topo da pauta hemisférica e da agenda da Cúpula das Américas, programada para a Argentina, em novembro.

Mas é altamente improvável que as negociações - se forem retomadas - prosperem. O ambiente protecionista no Congresso é apenas uma parte do problema. A passagem do Cafta trás de volta a Alca, mas com respiração artificial", disse ao Estado, ontem, o presidente do Diálogo Interamericano, Peter Hakim.

"Mas as diferenças entre os Estados Unidos e o Brasil são tão grandes em agricultura, propriedade intelectual, serviços, etc, e há tão pouca boa vontade para soluções de compromisso e tão pouco interesse que não há nenhuma chance de ressurreição da Alca proximamente".