Título: Bancos confirmam empréstimo e emprego para ex-mulher de Dirceu
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A4

A situação do deputado José Dirceu (PT-SP), ex-ministro-chefe da Casa Civil, complicou-se ainda mais ontem, véspera de seu depoimento no Conselho de Ética da Câmara. Os dois bancos mais ligados ao publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, o Banco Rural e o Banco de Minas Gerais (BMG), confirmaram ter ajudado a psicóloga Maria Angela Saragoça, ex-mulher do deputado petista. O Rural concedeu um empréstimo para que ela comprasse um apartamento. E o BMG deu-lhe um emprego em sua única agência em São Paulo. Dirceu nega ter interferido nos dois casos, mas os advogados de Valério consideram que eles representam "a prova definitiva" de que o ex-ministro era próximo do empresário, o que vem sendo negado pelo petista. De acordo com reportagem do jornal Correio Braziliense, Valério contou que, logo após a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi procurado por Dirceu, que lhe fez dois pedidos pessoais: o empréstimo e o emprego para Maria Angela.

O dono das agências de publicidade que repassaram dinheiro para políticos relatou que, para falar do emprego, telefonou para o presidente da Brasfrigo e maior acionista do BMG, Flávio Guimarães - pai de Ricardo Guimarães, principal executivo do banco. Depois do contato, a psicóloga, com quem Dirceu tem uma filha de 16 anos, foi empregada na agência do BMG da Alameda Santos. Para garantir a vaga para Maria Angela, Dirceu teria conversado pessoalmente com Flávio Guimarães.

Num segundo telefonema, Marcos Valério pediu ao banqueiro José Augusto Dumont, ex-vice-presidente do Banco Rural, já falecido, para conceder um empréstimo a Dirceu. O objetivo era comprar um apartamento para Maria Angela, em São Paulo. De acordo com informação fornecida pelos advogados de Valério, o financiamento seria de R$ 200 mil, mas o Rural garante que o valor liberado foi de R$ 42 mil.

CPI

A descoberta de um canal direto entre Dirceu, Valério e os diretores dos dois bancos provocou impacto entre os integrantes da CPI dos Correios e também no Conselho de Ética da Câmara. Até agora, o ex-ministro tinha dito que mantivera pouquíssimos contatos com Valério e com diretores do BMG e Rural, bancos pelos quais saíram os pagamentos do suposto mensalão, além de dinheiro para campanhas eleitorais.

Dirceu já confirmara ter conversado com representantes das duas instituições financeiras, mas garantiu que todas as conversas tinham sido solicitadas pelos bancos e nunca trataram sobre empréstimos para o PT. Para integrantes da CPI, a descoberta dessas relações mostram que Dirceu ainda precisa dar muitas explicações a dar à comissão.

"São informações novas, que contradizem os dados que o ex-ministro vinha apresentando até agora. Se tudo isso se confirmar, ele precisará explicar o assunto", afirmou o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Por causa dessas revelações, deputados e senadores do PSDB passaram a tarde de ontem reunidos para definir que estratégia vão adotar durante o depoimento de Dirceu no Conselho de Ética.

O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), que integra a CPI dos Correios e o Conselho de Ética da Câmara, avalia que a renúncia do deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), anunciada ontem, deu uma dimensão política, não apenas contábil, às investigações da comissão. Fruet acrescentou que é nesse clima que o ex-ministro da Casa Civil deve dar o tom de seu depoimento. Para ele, Dirceu colocará em jogo o seu destino no PT e seu grau de relacionamento com o presidente Lula.