Título: Mercadante cobra 'explicações convincentes' de Dirceu
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A5

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), deixou claro que não ficará do lado do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, enquanto não ouvir "explicações convincentes" sobre as denúncias que ligam o nome do deputado petista ao escândalo de corrupção no governo Lula. "Não posso defender aquilo que não conheço, e essa história toda jamais me foi contada. Eu não sei onde ela começa e onde ela termina e, nessas condições, não tenho como defender ninguém, porque eu não concordo com tudo isso."

Mercadante defende não só que José Dirceu seja claro e busque transparência hoje na Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, como garante esperar que todos os culpados no escândalos sejam "severamente punidos".

A ênfase com que cobrou Dirceu, no entanto, foi bem maior do que a utilizada ao falar de seu amigo José Genoino, ex-presidente do PT que renunciou ao cargo após ver seu nome envolvido nas denúncias. "O Genoino errou e sabe disso. Ele era presidente do partido e se omitiu em questões que não poderia ter se omitido. Ele errou e sabe que errou", afirmou Mercadante durante a gravação do Programa do Jô, na TV Globo, no início da noite de ontem. "Mas se eu pudesse tirar o Genoino dessa situação eu tiraria", declarou.

O senador destacou a importância de José Dirceu na "luta pela democracia no País", disse nunca ter tido muita proximidade com o companheiro de partido e, por fim, analisou que a repressão do período militar no Brasil deixou marcas prejudiciais à personalidade de Dirceu. "Ele tem aquela coisa de quem está tentando sobreviver." E prosseguiu em sua teoria. "A ditadura gera o instinto de sobrevivência por um lado, mas gera condutas que o prejudicaram muito na vida pública", afirmou.

Dificuldade em defender Dirceu também sentiu o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, em entrevista na Fiesp. Ao falar do ex-chefe da Casa Civil, foi cauteloso. "Espero, com meu coração, que ele consiga mostrar para o Parlamento e para o País o que eu penso que ele é, um homem de bem." Pouco antes, Ciro fez calorosa defesa ao presidente do PSDB, o senador Eduardo Azeredo (MG), acusado de envolvimento com o empresário Marcos Valério quando era governador, em 1998. "É um homem de bem, é um homem sério", afirmou. "Só com uma demonstração muito violenta para eu acreditar que o senador Eduardo Azeredo praticou ato de ofício", acrescentou.

A justificativa do ministro para a disparidade nas defesas foi conhecer o tucano mais profundamente. "Do Zé Dirceu eu tenho a melhor impressão, a melhor impressão da pouca convivência, mas a melhor impressão", repetiu Ciro.