Título: Exportação de petróleo aumenta, mas consumo interno não cresce
Autor: Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Economia & Negócios, p. B7

Venda de derivados cresce só 0,5% até maio, ante 6% nos mesmos 5 meses de 2004

O bom desempenho da balança comercial do setor de petróleo, um dos principais responsáveis para o recorde de exportações do Brasil em julho, esconde um dado negativo: a estagnação do consumo de combustíveis. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), as vendas de derivados pelas distribuidoras cresceram apenas 0,5% nos cinco primeiros meses de 2005, ante uma alta de 6% no mesmo período do ano passado. O setor de petróleo foi responsável por 43,5% do aumento nas exportações do País em julho, segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). No primeiro trimestre, a Petrobrás já havia comemorado um resultado positivo, que deve repetir-se no balanço do segundo trimestre. Resultado obtido com o aumento da produção, diz a empresa, mas influenciado pelo consumo, na opinião de especialistas.

Manguinhos

A Refinaria de Manguinhos deve parar de produzir combustíveis hoje. Segundo a empresa, a última carga de petróleo duraria até esta madrugada. Depois, não há mais óleo para refinar. A companhia informou que mantém a distribuição e logística de combustíveis e que não há definição sobre o futuro dos cerca de 500 empregados. Manguinhos vem sofrendo com a defasagem dos preços internos dos combustíveis, abaixo da cotação do petróleo no mercado internacional, e parou de comprar o produto. A outra refinaria privada brasileira, do grupo Ipiranga, tomou essa decisão em maio, mas conseguiu comprar estoque novo em junho, retomando o trabalho. Mas a empresa prevê a suspensão das atividades neste mês.

Oficialmente, a Manguinhos diz que espera uma solução do governo - anteontem, o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, afirmou que há alternativas em análise. Ontem, sindicalistas e funcionários promoveram manifestações contra o fechamento da refinaria.

"É inegável que o esforço exploratório da Petrobrás tenha resultado em aumento da produção este ano, mas a curva de consumo apresentou uma desaceleração muito forte", avalia o consultor Jean-Paul Prates, da Expetro Consultoria. De fato, com apenas duas plataformas, a Petrobrás conseguiu produzir mais 300 mil barris de petróleo por dia este ano. Mas, segundo a ANP, as vendas não acompanharam o ritmo: as distribuidoras venderam, até maio, 35,2 bilhões de litros de combustíveis no Brasil, semelhante aos 35,07 bilhões vendidos no mesmo período de 2004.

A Petrobrás teve aumento de 3% nas vendas de combustíveis no primeiro semestre, diz o diretor de Abastecimento da companhia, Paulo Roberto Costa. Mas ele reconhece que parte do volume não resulta do aparecimento de novos consumidores, mas da eliminação de outras fontes de suprimento: as centrais petroquímicas reduziram a produção de gasolina; não há mais formuladores de combustíveis no País; e o aperto à adulteração reduziu o volume de solventes e álcool misturados à gasolina.

A estagnação do consumo, na avaliação do mercado, é provocada por uma piora no cenário econômico. Esse quadro pode facilitar o esforço brasileiro para atingir a auto-suficiência no setor, que a Petrobrás espera para 2006. Mas cria o risco de que essa conquista não seja sustentável, alerta o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), já que o consumo tende a aumentar caso a economia retome a curva de crescimento. A Petrobrás trabalha com uma estimativa de crescimento do consumo de 2,4% ao ano.