Título: Lula acha 'demasiado' o superávit comercial
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

Falta de crescimento na importação de máquinas preocupa o presidente

O saldo comercial de US$ 5,011 bilhões de julho foi considerado "demasiado" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Foi o que revelou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, na abertura do fórum Desenvolvimento Empresarial para o século 21, promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Furlan contou que telefonou a Lula para comunicar o bom resultado da balança e o presidente teria comentado que saldos comerciais de US$ 4 bilhões e US$ 5 bilhões, como os de junho e julho, "talvez sejam demasiados porque o aumento das exportações pressupõe aumento de importações".

Por trás do comentário do presidente está a preocupação com o fato de as importações não estarem crescendo. Ao contrário do que ocorria até o início dos anos 90, quando o importante era ter saldos comerciais elevados, atualmente o que conta é o comércio nas duas mãos.

Importações baixas podem indicar retração nos investimentos, com menos compra de máquinas no exterior. "É surpreendente que as importações não estejam crescendo mais, com o dólar tão convidativo", disse Furlan.

O ministro reafirmou a meta do governo de elevar o valor da corrente de comércio (soma de exportações e importações para o equivalente a 30% do Produto Interno Bruto (PIB). Atualmente, disse ele, a corrente corresponde a 14% do PIB.

O comércio nas duas mãos é um indicador de peso na avaliação do risco país. Para elevar o volume de comércio do Brasil, defendeu Furlan, é preciso que a imagem do País no exterior evolua. Na sua avaliação, a economia brasileira é diversificada, com setores de alta tecnologia "que fazem inveja" a vários outros países. "Mas nossa imagem no exterior ainda é antiga", afirmou.

De acordo com Furlan, o Brasil ainda é visto como o país o País do samba, café e Pelé. Essa imagem, segundo ele, não é má, mas pertence ao século passado.

CRISE

O ministro afirmou esperar que a "turbulência política não afete o ânimo do setor produtivo". Ele pediu aos empresários que não se esqueçam que os fundamentos da economia continuam sólidos. "Não podemos perder o rumo", observou.

Furlan admitiu que "nossa cabeça está imersa em questões conjunturais pelo bombardeio que estamos sofrendo". Ele ressaltou a importância do evento de ontem, que tratava de modernização das empresas. "Esse é um evento que trata de coisas estruturais, que poderão contribuir para a mudança do País nos próximos anos".

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), deputado Armando Monteiro, disse que o sucesso da indústria brasileira nos próximos 10 anos vai depender da criação de um ambiente favorável à inovação e uma adequada infra-estrutura tecnológica.

"A maior inserção do Brasil no comércio internacional de bens e serviços é estratégia para alavancar o potencial de crescimento do País e indispensável para a estabilidade dos fundamentos macroeconômicos e para o bom desempenho das empresas", disse.