Título: Astronautas se preparam para missão inédita
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Vida&, p. A20

Pela primeira vez nos 24 anos do programa de ônibus espaciais, tripulação tentará fazer reparos na nave no meio de uma missão. Bush prometeu rezar pela volta deles

Os astronautas do Discovery deixaram ontem preparada a terceira atividade espacial externa, durante a qual tentarão realizar algo sem precedentes nos 24 anos do programa de ônibus espaciais: reparos na nave em órbita a 385 quilômetros da Terra. O oitavo dia da missão foi calmo para a comandante Eileen Collins e seus seis colegas, que foram à Estação Espacial Internacional (ISS) para uma teleconferência com o presidente dos Estados Unidos (leia abaixo).

Na primeira missão de um ônibus espacial desde a tragédia com o Columbia, em 2003, que custou a vida dos sete tripulantes, estavam previstas três saídas ao espaço dos astronautas Stephen Robinson e Soichi Noguchi. Agora, porém, as saídas serão quatro, com o trabalho de hoje, que durará cerca de seis horas, e consta do conserto de dois pontos na barriga da nave, onde foram detectados pedaços protuberantes da malha cerâmica usada entre as placas térmicas.

Segundo a Nasa, a "atividade extraveicular" começará às 4h14 de Brasília, quando Robinson e Noguchi sairão da nave. Noguchi realizará tarefas na ISS. Já Robinson, preso ao braço robótico da estação, será levado ao local onde estão as protuberâncias.

Através de uma câmera montada no braço robótico da nave, o astronauta Andrew Thomas vai monitorar Robinson, que tentará retirar os finos pedaços de malha cerâmica com as mãos. Se não conseguir, vai segurá-los com uma espécie de pinça e cortá-los com serra ou tesoura.

DÚVIDAS

Embora pareça um conserto simples, os astronautas manifestaram dúvidas quanto à segurança dos procedimentos. "É simples na teoria, mas tem de ser feito com muito, muito cuidado", afirmou Robinson. O primeiro perigo é que as plaquinhas de cerâmica, que podem resistir a um calor infernal, se rompam com facilidade ao ser tocadas. O medo do astronauta é tocar essas frágeis plaquinhas com o capacete, pois terá de aproximar-se delas.

O subchefe do programa de ônibus espaciais, Wayne Hale, afirmou que, se esse plano não funcionar, com certeza a Nasa achará outra solução e tentará realizar o conserto de novo.

Na realidade, a equipe da agência espacial não tem muita certeza sobre quais seriam as conseqüências de um retorno da nave com as protuberâncias. No reingresso à atmosfera, a nave fica num ângulo de 45 graus e durante vários minutos a fricção eleva a temperatura a mais de 1.400ºC. Sua proteção depende de cerca de 24 mil painéis de sílica isolante postos na estrutura entre os quais ficam as malhas cerâmicas.

Especialistas temem que as peças protuberantes causem turbulências que elevem a temperatura além da tolerância das placas isolantes, o que deixaria a nave vulnerável à intrusão de gases em combustão. Foi a entrada desses gases numa asa que causou a explosão do Columbia em 2003.

"Creio que nosso retorno será seguro", afirmou a comandante do Discovery, apesar das incertezas. O Discovery deve voltar à Terra no domingo ou na segunda-feira.