Título: Alckmin vê governo parado e sem comando
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A15

Governador bate forte na política econômica de Palocci

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) fez ontem duras críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, atacou a corrupção no governo e a gestão da economia. "Nós temos hoje um governo que não funciona, um presidente que não comanda e o povo está estarrecido, estupefato, com as quantidades de denúncias envolvendo o dinheiro público, o dinheiro sofrido de nossa população", disse Alckmin, no V Congresso Nacional da Força Sindical, em Praia Grande, no litoral paulista. Aproveitando o fato de discursar para uma platéia de sindicalistas hostil ao governo Lula, o governador atacou com dureza a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Segundo Alckmin, por causa dessa orientação, "em um mundo em que nunca houve tanta liquidez, em um mundo que nunca cresceu tanto, o Brasil está perdendo oportunidades". "É o último da fila, com os juros mais altos do planeta, 14% de juros reais", anotou.

Segundo declarou o governador - que é citado, junto com o prefeito José Serra, como o mais provável do PSDB à Presidência - a política econômica favorece o "mundo dos rentistas", das pessoas que vivem dos juros e do capital, não do trabalho. "Esses juros trazem todo o capital especulativo, dólar para todo o lado, para vir sugar esses juros." Como conseqüência, destacou, o "dólar vai lá para baixo e as exportações têm dificuldades".

IMPOSTOS

O governador fez ataques à política tributária do governo federal, lembrando que Venezuela, Chile e Argentina têm carga tributária de menos de 20% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil esse índice chega a 38%. "Trabalha-se de janeiro a maio para sustentar o governo. Já o investimento para alavancar emprego, renda e trabalho é desse tamanhinho", ironizou o governador paulista.

Ao mencionar a alta carga tributária do País, Alckmin exaltou a própria administração e alinhou uma séria de medidas tomadas pelo governo de São Paulo para reduzir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) aplicado a vários produtos, como álcool, couro, calçados, farinha de trigo e produtos têxteis. "Em São Paulo, não temos os instrumentos da macroeconomia. Não podemos reduzir os juros, melhorar o câmbio, mas estamos fazendo a nossa parte, que é desonerar o setor produtivo para ajudar quem quer trabalhar", afirmou.

Em entrevista após o discurso, o governador defendeu a continuidade das investigações da CPI dos Correios, ao responder a perguntas sobre um eventual envolvimento do presidente Lula com as denúncias de corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

"As investigações devem ser feitas com isenção, firmeza e cautela. Não existe ninguém acima da lei. A lei existe para todos", frisou.