Título: Lula diz que só coisa ruim interessa à imprensa
Autor: Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A15

Presidente se queixa da falta de destaque na mídia para realizações de seu governo

No momento em que o "companheiro" José Dirceu enfrentava os adversários e os holofotes no Conselho de Ética da Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em discurso no Palácio do Planalto, que a imprensa só dá destaque a "coisa ruim". Minutos antes, a uma pergunta se a crise política o atingiria, ele respondeu, sorrindo: "Depende de vocês". A resposta irônica foi dada quando acabava de descer a escada do terceiro para o segundo andar do Palácio do Planalto, onde instalaria o Conselho Nacional de Juventude, órgão composto por representantes de diversos segmentos sociais, como os músicos Marcelo Yuca e MV Bill. Lula aproveitou o evento para lembrar aumentos de recursos aplicados pelo governo em reforma agrária, agricultura familiar, saúde, educação e em ações da Polícia Federal. "Vivemos um momento político interessante", avaliou. "Muitas vezes, o destaque que um ato como este tem na imprensa é quase nenhum", disse. "Está acontecendo o processo da Comissão de Ética, o companheiro Zé Dirceu está lá e, certamente, como minha mãe dizia: coisa ruim sempre tem mais privilégio que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não apenas do Brasil." O evento no Planalto começou às 16h20, com 50 minutos de atraso. Lula só deixou o gabinete no terceiro andar quando Dirceu terminava a primeira parte do discurso no conselho.

No discurso de improviso, que durou cerca de 35 minutos, Lula observou que o governo dele aumentou os recursos em áreas diversas, como agricultura familiar, reforma agrária, saúde, Polícia Federal. O presidente disse aos representantes do Conselho da Juventude que se tiverem persistência poderão chegar ao posto que ele chegou. Lula afirmou que, na trajetória política, acreditou que poderia convencer a sociedade de que era possível fazer mudanças. "E estamos fazendo." O presidente afirmou que "o Estado deve ser a expressão do interesse público e do bem comum, jamais abrigo de privilégios e interesses privados". "Temos de ter capacidade e inteligência para não perder de vista a oportunidade de ouvir o clamor dos mais diferentes segmentos da sociedade porque, assim, nós e quem vier depois erraremos menos", ressaltou.

Marcelo Yuca, do Rappa, recebeu de Lula um beijo no rosto e afirmou que confia no presidente. "Tenho medo do que pode vir depois, medo do fascismo, da direita", disse o músico. "Espero não estar falando com ingenuidade, levo em conta a biografia dele."

RELAÇÃO DIFÍCIL

Em visita à cidade gaúcha de Bagé, na última quinta-feira, Lula afirmou também em discurso que "alguém" terá de pagar pelos inocentes manchados pela imprensa. Ele disse que no País é muito comum crucificar as pessoas, nunca pedir perdão. A relação de Lula com a imprensa sempre foi difícil. No mês passado, em Paris, o presidente deu uma longa entrevista para uma produtora brasileira independente, negando-se a falar com os representantes de veículos brasileiros que cobriam a viagem dele. A Secretaria de Imprensa do Planalto negou que a entrevista tenha sido uma "armação".