Título: Waldomiro levava R$ 300 mil por mês, diz ex-secretário
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A13

Soares afirma que alertou petistas, mas ele foi mantido na presidência da Loterj

O ex-secretário de Segurança Nacional Luiz Eduardo Soares disse ontem na CPI dos Bingos que o presidente da Loterj no governo Anthony Garotinho, Waldomiro Diniz, levantava propina de R$ 300 mil por mês. Ele atribuiu a informação ao empresário de jogos Sérgio Canozzi e contou que Canozzi até lhe sugeriu que entrasse no esquema, que garantiria recursos "privados" para ele, para a então vice-governadora do Rio Benedita da Silva (PT) e para a campanha do PT no Rio. Soares disse que se surpreendeu com a afirmação e a transmitiu a vários petistas, mas Benedita manteve Waldomiro na Loterj.

Soares relatou ainda que, quando soube que Waldomiro tinha assumido importante cargo na Casa Civil, no início do governo Lula, achou que sua avaliação sobre ele estava errada. "Soube que a Abin (Agência Brasileira de Informação) havia feito uma triagem dos nomeados e imaginei que José Dirceu, um homem inteligente, jamais levaria para trabalhar a seu lado alguém envolvido com corrupção", disse. Quando soube do episódio em que Waldomiro foi flagrado pedindo propina a um empresário de jogos, a avaliação voltou ao pé inicial.

Na CPI, Soares participou de acareação com Canozzi, após depoimentos isolados que se contradiziam. A versão do empresário não convenceu os senadores: ele e sua mulher, Denise, tiveram seu sigilo bancário, fiscal e telefônico quebrado. A CPI também quebrou o sigilo da linha telefônica do gabinete onde Soares trabalhou, para checar se Canozzi insistiu para ser recebido por ele.

A CPI já confirmou que Canozzi tem dois CPFs e é alvo de vários processos - no depoimento, o senador Romeu Tuma (PFL-SP) entregou-lhe a intimação de um, a pedido do delegado da Polícia Federal Daniel Justo Madruga. "Como o delegado não consegue localizá-lo, mandou a intimação por fax", informou Tuma.

Soares acusou o empresário de patrocinar, na campanha de 2002, um esquema semelhante ao montado por Waldomiro na Loterj. Segundo ele, Canozzi lhe propôs que entrasse no esquema em troca de uma "drenagem" entre R$ 80 a R$ 100 milhões, apenas nos nove meses do governo de transição de Benedita.

O desvio de dinheiro público asseguraria ainda uma propina de R$ 10 milhões para a governadora, R$ 5 milhões para o próprio Soares e R$ 1 milhão para o empresário. Soares chamou Canozzi de "corruptólogo". "Ele parecia seguro de seu plano, a ponto de dizer que os R$ 300 mil achacados por Waldomiro mostravam a inércia e ineficiência dele."

Soares disse ter revelado três vezes à governadora Benedita a proposta de Canozzi. Nas três, ela teria desconversado, dizendo: "Você deveria ser mais construtivo e não ficar me trazendo mais problemas." Seus outros interlocutores foram o secretário de coordenação de governo do Rio, Marcelo Sereno, "que atuava como primeiro-ministro" e mais dois secretários de Benedita, Manoel Severino e Val Carvalho. Sereno foi convocado pela CPI. A versão de Canozzi é de ter procurado Soares por determinação de Benedita, após ter conversado com ela sobre a intenção de espanhóis de investir em casas de bingo no Rio. Em telefonema ao senador Tião Viana (PT-AC), Benedita o desmentiu.