Título: Polícia indicia primeiro envolvido no caso Buratti por fraude em licitações
Autor: Brás Henrique
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A13

Delegado diz ter provas de formação de quadrilha contra ex-presidente da Leão Ambiental e confirma que acusará mais 4 pessoas

O ex-presidente da empresa Leão Ambiental, Wilney Barquete, foi indiciado ontem durante depoimento ao delegado-seccional de Polícia Civil de Ribeirão Preto, Benedito Antonio Valencise, em inquérito sobre fraudes em licitações para coleta de lixo. Como antecipou o Estado, o delegado confirmou que também vai indiciar o dono da Leão Leão, Luiz Cláudio Leão, e mais três ex-diretores da Leão Ambiental, incluindo Rogério Tadeu Buratti - que foi secretário de Governo em Ribeirão Preto na gestão Antonio Palocci. O delegado afirmou que já tem provas documentais e periciais de formação de quadrilha, sonegação fiscal, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro. "As provas são irrefutáveis, não há dúvidas. O inquérito deve ser encerrado até o próximo dia 10", informou Valencise.

As investigações sobre o esquema para vencer licitações - que teria atuado em pelo menos dez cidades paulistas e mineiras - foram conduzidas por promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco). Baseiam-se em gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, entre 23 de abril e 16 de setembro de 2004, e em documentos apreendidos. Quatro empreiteiras também estariam envolvidas.

SILÊNCIO

"Quem cala consente", disse Valencise, após ouvir Barquete por cerca de três horas - o ex-presidente da Leão Ambiental reservou-se o direito de não responder às perguntas sobre os contratos de lixo. "Foi importante porque corroborou com uma série de dados do inquérito, que contribuem para o esclarecimento e a comprovação dos fatos", garantiu o delegado, sem entrar em detalhes. "Mais informações só após todos os depoimentos."

Apesar do silêncio de Barquete em vários questionamentos, o delegado disse que "existem provas que definem uma situação com bastante segurança". E acrescentou: "Já há um conjunto probatório harmônico, seguro, que demonstra uma série de situações, dos fatos que estão sendo apurados."

Ao deixar o prédio da Delegacia Seccional de Ribeirão Preto, Barquete não quis falar. Seu advogado, Renato Martins, informou que seu cliente estará sempre à disposição para esclarecimentos e acrescentou que Barquete está desempregado desde que saiu da Leão Leão, no fim de setembro de 2004. Acrescentou que não poderia dar detalhes do depoimento, porque o inquérito está sob sigilo.

O advogado afirmou que o computador laptop apreendido na Leão Leão não era de seu cliente. Após a declaração, o delegado reagiu: "Se ele proferiu essa afirmação, excelente, pois o próprio advogado está reconhecendo o envolvimento de outras pessoas."

BURATTI

Valencise ainda ouvirá nos próximos dias o advogado Rogério Buratti, que teria articulado fraudes em licitações mesmo fora da Leão Ambiental. Ele saiu da empresa no começo de 2004, após denúncia de que estaria envolvido na renovação de contrato de loterias da Gtech com a Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 650 milhões, e de sua ligação com o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz.

Ainda vão depor no inquérito da Polícia Civil Luiz Cláudio Leão e os ex-diretores Marcelo Franzine e Fernando Fischer. Todos serão ouvidos já indiciados pelo delegado.

Por enquanto, Valencise disse que, se todos colaborarem, não pedirá a prisão temporária de ninguém. "Mas, se alguém não atender às intimações ou dificultar o comparecimento, essa é uma medida que pode ser adotada", advertiu.

O promotor Aroldo Costa Filho acompanhou o depoimento de Barquete e não se convenceu com os argumentos. Disse que, apesar de o depoente não admitir nenhum crime, já há provas, como as transcrições das gravações telefônicas e os documentos apreendidos na Leão Leão. "Se ele não se defender quando forem apresentados os documentos, presumo que ele tem responsabilidade nos crimes."

Barquete, primo de Ralf Barquete Santos, já morto, que foi secretário da Fazenda de Palocci na prefeitura de Ribeirão, também trabalhou com o atual ministro da Fazenda no mesmo período: foi presidente da Cohab, sob indicação dos peemedebistas Wagner Rossi (ex-deputado federal) e Baleia Rossi (deputado estadual).