Título: Publicitário bancou festa da posse, mostra nota fiscal
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A12

CPI dos Correios recebeu o documento no valor de R$ 72,7 mil

Nota fiscal 0500, valor da primeira parcela: R$ 72.750,00. Descrição dos produtos/serviços: montagem, confecção dos palcos, camarim, operadores de som, iluminação e instalação de grades de proteção para as festividades de posse do presidente Lula. O documento, que chegou ontem à CPI dos Correios, é prova da triangulação entre o PT, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza e o Palácio do Planalto. "Essa nota fiscal demonstra que, desde a posse (de Lula), eles (petistas) confundem o partido com o governo", declarou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que integra a CPI e vasculha os negócios de Valério, Delúbio e governo.

Para Álvaro Dias, as suspeitas de irregularidade ganham força porque o dinheiro que o PT gastou para adquirir serviços e bancar a festa saiu de operações bancárias avalizadas por Marcos Valério.

O senador começou a rastrear os caminhos do dinheiro que Valério tomou emprestado junto a instituições financeiras e repassou ao PT. Também quer identificar todos os contratos de empresas públicas e estatais que firmaram contratos com a SMPB e a DNA, empresas do suposto operador do mensalão.

A primeira pista o senador conseguiu de quem menos esperava obter alguma colaboração, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

À Polícia Federal, Delúbio afirmou que os recursos que Valério tomou nos bancos foram repassados ao PT para cobrir despesas de diretórios regionais e também para bancar gastos com a solenidade de posse de Lula, em 1.º de janeiro de 2003.

TAXA

"Realmente solicitei um empréstimo junto ao banco BMG no valor de R$ 2,4 milhões para cobrir um saldo negativo decorrente de despesas efetuadas pelo PT na transição do governo e na cerimônia de posse do presidente da República", admitiu Delúbio.

O ex-tesoureiro disse que os dirigentes do banco responsáveis pela concessão do empréstimo foram apresentados a ele por Marcos Valério. Afirmou ter escolhido o BMG "porque a instituição apresentou as melhores condições de taxa entre os bancos pesquisados". Delúbio admitiu que também tomou empréstimo de R$ 3 milhões junto ao Banco Rural - instituição que teria operado como caixa do mensalão -, igualmente avalizado por Marcos Valério.

O senador Álvaro Dias quer saber dos detalhes da festa de posse de Lula e saiu em busca de documentos. Ele descobriu que, 13 dias antes da posse, a 17 de dezembro de 2002, o PT pagou R$ 72,7 mil à MDA Som Luz Estruturas Especiais Ltda., estabelecida em Taguatinga, para a montagem dos palcos da grande cerimônia. A MDA emitiu a fatura 0500 a título de "prestação de serviços". O destinatário da nota foi o PT, direção nacional.

"Desde o início do mandato (de Lula), o PT se imagina proprietário do governo", assinalou Dias. "O PT atribui a si responsabilidade que é do governo. Cabia ao governo a organização da solenidade de posse. Confundiram partido com governo e público com privado."

SUPERFATURADOS

Para o senador, "essa mistura de ações revela que eles (petistas) perderam o escrúpulo, determinando a patrimonialização do governo com a partidarização excessiva o que levou a esse escândalo do mensalão". Ele está convencido de que a contrapartida em favor de Marcos Valério foi dada depois da posse, por meio de contratos superfaturados.

Uma outra nota fiscal, também relativa à festa de Lula presidente, foi emitida pela Matéria Prima Comunicação e Marketing Ltda., sediada em Ceilândia. A fatura, número 0317, foi lançada também no dia 17 de dezembro de 2002, no valor de R$ 8.250,00 - valor correspondente a 30% de "serviços de produção local e (instalação) de 50 monitores para a festividade de posse do presidente Luís Inácio Lula da Silva a realizar-se dia 01/01/03". O Partido dos Trabalhadores aparece como "tomador do serviço" contratado.