Título: Lista indica compra de passe ou votos de parlamentares
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A11

Saques concentram-se nas proximidades de votações importantes

A lista de repasses de dinheiro apresentada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza reforça as suspeitas da oposição de que o dinheiro serviu para comprar o passe ou o voto de parlamentares. Dos R$ 55,84 milhões detalhados por Marcos Valério, quase metade - R$ 25,9 milhões - foi parar nas mãos dos partidos aliados (PL, PP, PTB e PMDB), e grande parte desses valores foi repassada de forma "pingada" no período de mudanças de sigla e de votação das reformas tributária e previdenciária, em 2003. Entre março e maio daquele ano, por exemplo, o esquema montado por Marcos Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares distribuiu R$ 12,9 milhões para diversos intermediários, sem contar os R$ 4,4 milhões repassados especialmente ao então tesoureiro do PL, Jacinto Lamas, por meio de duas empresas financeiras - a Guaranhuns Empreendimentos e a corretora Bônus-Banval, ambas de São Paulo.

Coincidentemente, segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), no mesmo período registra-se a maioria das trocas de partido que ajudaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a construir sua base de sustentação no Congresso, às vésperas de importantes votações.

Entre 6 de setembro de 2003, quando a emenda previdenciária foi aprovada em primeiro turno pela Câmara dos Deputados, e 26 de setembro, quando ela foi votada em segundo turno, o empresário liberou mais R$ 1,1 milhão para diversos políticos e assessores parlamentares. Nos dois meses seguintes, quando foi aprovada a Reforma Tributária, foram liberados outros R$ 6,9 milhões.

"Isso desmonta a versão fantasiosa de que os recursos se destinavam a cobrir despesas de campanha, porque não era um período eleitoral", diz o senador Álvaro Dias.

De acordo com a versão de Delúbio, ele teria pedido para Valério assumir empréstimos no BMG e no Banco Rural para cobrir as despesas de campanha de 2002 e 2004, especialmente as do próprio PT. Mas os números apresentados pelo empresário mostram que os petistas ficaram com uma fatia de recursos (R$ 13,1 milhões) inclusive menor do que os partidos aliados (R$ 25,9 milhões), excluindo a fatia (R$ 15,5 milhões) repassada à agência de publicidade de Duda Mendonça, que fez a campanha de Lula.

"A matemática dos repasses desmonta a tese petista de que os empréstimos eram para pagar dívidas de campanha do partido. O dinheiro era, na verdade, para pagar o mensalão", afirma o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS). Individualmente, o partido que mais recebeu dinheiro de Valério, depois do PT, foi o PL do vice-presidente José Alencar. A legenda foi contemplada com R$ 12,23 milhões. A maior parte do dinheiro (R$ 10,84 milhões) foi entregue ao ex-tesoureiro Jacinto Lamas, que repassaria esse valor ao presidente da sigla, o ex-deputado Valdemar Costa Neto.

Outro repasse volumoso no PL (R$ 1 milhão), de acordo com a lista de Valério, coube ao assessor do então ministro dos Transportes, Anderson Adauto. Inicialmente, ele argumentou que o saque identificado pela CPI, no valor de R$ 250 mil, serviria para cobrir suas despesas de campanha a deputado em Minas, mas os novos valores informados colocam em dúvida essa explicação.

No caso do PP, que recebeu R$ 7,8 milhões, a lista de Valério revela mais um nome que ainda não havia aparecido: o do deputado Vadão Gomes, de São Paulo. Só ele teria recebido R$ 3,7 milhões, entre julho e agosto de 2004.