Título: 'Se renunciasse, não teria condição de olhar nos olhos dos senhores'
Autor: João Domingos Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A6

Deputado ressalta que, apesar de ter sido tratado como réu, 'não há nada' contra ele RENÚNCIA: "Quero deixar claro que, apesar de muitas vezes ter sido tratado como réu, não há nada contra minha pessoa. Tomei a decisão de não renunciar porque não teria condição de olhar nos olhos dos senhores, de minha geração de 1968, dos que lutaram contra a ditadura, dos brasileiros, de olhar para a militância do PT. Não vou renunciar, vou lutar pelo mandato até o fim. A única coisa que quero é justiça. De nada me serve renunciar e preservar direitos políticos se não tiver o respeito de vocês, se não puder andar de cabeça erguida.."

CHEFE DE QUADRILHA: "Não posso aceitar que eu seja prejulgado, que eu seja transformado num chefe de quadrilha ou no chefe do maior esquema de corrupção do País, articulador ou organizador do mensalão. Não organizei, não sou chefe, jamais permitiria a compra de voto e o pagamento de parlamentares. Não vou aceitar prejulgamentos nem montagens ridículas, como a suposta transferência de recursos para Roberto Marques, meu assessor informal. Não vou sair da vida pública porque não cometi nenhum crime. Não protegi nenhuma espécie de corrupção, lobby ou tráfico de influência."

JEFFERSON: "(Jefferson) me fez muitas acusações. Tenho serenidade para ouvi-las, analisá-las, aceitar se cometi erros, ou então repudiá-las. Jefferson tinha toda condição de denunciar o mensalão. Ele poderia ter denunciado isso antes. Procurou o deputado Miro Teixeira e este o aconselhou a ir ao presidente, à Câmara, ao Ministério Público. Mas ele quer transferir a prevaricação para nós, os ministros Aldo Rebelo, Antonio Palocci, Ciro Gomes. E ao único - Miro Teixeira - que pediu que ele tocasse a apuração, ele não fez. Que não transfira para mim o que é responsabilidade dele."

ARTICULAÇÃO: "Fui responsável pela articulação política do governo até 2004. Senadores e deputados sabem que jamais propus qualquer coisa que não fosse lícita e republicana."

RESPONSABILIDADE: Sei dos erros da direção do PT na campanha de 2004. Mas só respondo pelo que decidi, participei e autorizei. Assumo meus atos, mas não assumo os atos da executiva nacional do PT. Eu não era membro da executiva. Não vou assumir a responsabilidade pelos empréstimos feitos pelas empresas do senhor Marcos Valério. Aliás, as diretorias dos bancos já afirmaram que não discutiram isso comigo."

CORRUPÇÃO NO PT: "Tenho conhecimento da gravidade e da tragédia que se abateu sobre nós, do PT. Sinto a angústia e o sofrimento - também meus - de milhões de eleitores do presidente Lula. É preciso preservar o PT, reconhecer erros e mudar o que foi errado. Apoiei a transição da presidência de José Genoino para Tarso Genro. Tenho certeza de que a direção saberá corrigir os erros do PT."

ACUSAÇÕES: "As tentativas de me prejulgar não me intimidam. Por que estou sendo acusado, tratado dessa forma? Pelo que fiz de errado? Por crimes que pratiquei, atos ilícitos? Claro que não. Pelo que eu represento na história do País, para a esquerda, para meu partido, o PT, pela eleição do presidente Lula, como presidente do PT e coordenador de sua campanha. É isso que está sendo julgado."

HISTÓRIA: "Tenho 40 anos de vida pública. Comecei em 65 na luta contra a ditadura. Com exceção da ditadura, nunca sofri processo por corrupção. Vou fazer 16 anos de deputado. E não há nada que pese contra minha pessoa, mesmo quando vivia na clandestinidade. Quando voltei da clandestinidade, fiz concurso na Assembléia. Passei por concurso, não usei privilégios, não usei do nome que tinha."

RELAÇÃO COM O PT: "Comecei no PT em 1980 e sou petista até hoje. Dizem que eu construí um movimento cubano no PT. Não há partido mais democrático do que o PT, todas as propostas foram disputadas no voto. O PT não é um partido stalinista, é produto da história do Brasil, da luta pela democracia, das camadas pobres, médias, assalariados, pequenos empresários. Cresceu com idéias, interagiu com os setores sociais e transformou-se em grande."

MÁGOA: "Não é verdade que eu esteja ressentido e magoado com o presidente Lula. Não é verdade que tenha vindo aqui fazer ataques ao governo. Eu sei me defender sozinho. Não quero que o governo ou mesmo meu partido venham me defender. Tenho responsabilidade sobre meus atos. Como ministro, e agora como deputado."

OPOSIÇÃO: "É preciso preservar os avanços, a democracia, as instituições e a governabilidade. É um direito da oposição lutar, tentar chegar ao poder, mas o País não pode correr o risco de perder suas instituições democráticas."

BASE ALIADA: "Nós, do PT, as forças que formaram a coalizão do primeiro turno, devem fazer uma avaliação do que formaram e também da necessidade de continuidade deste governo, de tratar da reeleição ou não."