Título: Ex-ministro nega ligação com mesada e contas do PT
Autor: João Domingos Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A6

No depoimento ao Conselho de Ética, por várias vezes Dirceu negou que tenha tido participação nas operações financeiras do partido e disse desconhecer o mensalão

Diante de seu principal acusador, o ex-ministro e deputado José Dirceu (PT-SP) negou ao Conselho de Ética da Câmara qualquer envolvimento com pagamento de mensalão a deputados aliados ou responsabilidade sobre operações financeiras decididas pela cúpula do partido nos últimos dois anos. Dirceu avisou que não vai renunciar, mesmo reconhecendo que corre o risco de ser cassado.

"Não vou renunciar, vou lutar pelo mandato até o fim. Prefiro ficar sem os direitos políticos, se for o caso, do que renunciar para ter falsa sobrevida política. Se eu renunciasse, não conseguiria mais viver. Não seria uma morte política, eu perderia a alma", disse. Também negou desavenças com o presidente Lula, a quem defendeu.

Na primeira fila, Roberto Jefferson (PTB-RJ), que acusa Dirceu de ser o "chefe do maior esquema de corrupção", ouvia cada palavra. Aguardava o embate, que veio às 15h35, uma hora depois do início do depoimento. Os dois trocaram acusações graves e chamaram um ao outro de "mentiroso". Jefferson reiterou denúncias. Dirceu acusou o petebista de prevaricação ao não denunciar a existência do mensalão. "Ele poderia ter denunciado tudo isso antes."

Dirceu disse que não aceitaria prejulgamentos. "Quero ser julgado pelos erros que cometi, não por calúnias", insistiu. Ele negou saber dos empréstimos feitos pelo publicitário Marcos Valério no BMG e no Banco Rural para saldar dívidas do PT.

Também assegurou não ter tido interferência em dois pedidos feitos por Valério para ajudar sua ex-mulher Maria Ângela Saragoça: o empréstimo no Rural e um emprego no BMG. Dirceu disse ter tido poucos encontros com o publicitário.

Na tentativa de se eximir das decisões da cúpula do PT, Dirceu reduziu a importância do ex-secretário-geral Silvio Pereira no governo. Negou que Silvio tivesse sala contígua à sua na Casa Civil, mas reconheceu que ele "foi delegado para falar em nome do PT" no momento em que o governo recém-empossado trabalhava na distribuição de cargos". Silvio saiu do PT na semana passada, quando foi descoberto que recebeu de presente um jipe Land Rover do diretor da empresa GDK, prestadora de serviços da Petrobrás.

No Conselho de Ética, Dirceu disse ter se arrependido de ter procurado Jefferson para que não assinasse o pedido de abertura da CPI dos Correios. "Eu já não fazia mais a articulação política." Ele lembrou que teve a vida "devassada" quando um de seus principais assessores, Waldomiro Diniz, foi flagrado pedindo propina ao empresário do jogo Carlos Cachoeira.

SEM MÁGOA

Diante dos rumores de que estaria magoado com Lula, Dirceu fez uma defesa veemente dele e do governo. "Tenho orgulho de apoiar o presidente. Não é verdade que seja um governo corrupto ou que permite a corrupção. Este governo não rouba, não deixa roubar e combate a corrupção."