Título: João Paulo pode ser o próximo
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A9

A renúncia do deputado Valdemar Costa Neto (SP) não deve ser a única entre os parlamentares sob suspeita de terem recebido dinheiro do mensalão. Assim, fugiriam do processo de cassação e não perderiam seus direitos políticos. "Prevejo a inauguração de uma onda de renúncias daqueles parlamentares que não querem responder a processo por quebra de decoro", disse o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN).

Entre os citados como prováveis candidatos a perder o cargo aparece o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), cuja mulher, Márcia Regina, sacou R$ 50 mil de uma conta mantida no Banco Rural por uma empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do mensalão. Outros dois cuja situação é praticamente insustentável são o líder do PP, José Janene (PR), e o presidente do partido, Pedro Correa (PE). João Cláudio Genu, assessor da legenda, contou à Polícia Federal ter retirado R$ 850 mil do Banco Rural e, a mando dos dois parlamentares, levou o dinheiro para a tesouraria do partido.

Também estão por um fio os deputados José Mentor (PT-SP, que recebeu R$ 120 mil de Marcos Valério e ainda é acusado de avisar ao empresário sobre as ações da CPI do Banestado que visavam a reprimir a transferência de dinheiro para o exterior; e o ex-líder petista Paulo Rocha (PA), cuja assessora Anita Leocádia sacou R$ 470 mil no Banco Rural. O dinheiro, admitiu Rocha, seria para pagar dívida de campanha.

A lista dos prováveis condenados inclui ainda o deputados Josias Gomes da Silva (PT-BA), que foi pessoalmente ao Banco Rural em Brasília pegar R$ 100 mil, e João Magno (PT-MG), que recebeu uma transferência bancária de R$ 50 mil da SMPB. Ambos disseram ter sido autorizados a receber o dinheiro pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Completam a relação os deputados Carlos Rodrigues (PL-RJ), que recebeu R$ 150 mil da SMPB de Marcos Valério; Vanderval dos Santos (PL-SP), que sacou R$ 150 mil da SMPB; Romeu Queiroz (PTB-MG), que ficou com R$ 50 mil; e Roberto Brant (PFL-MG), que recebeu R$ 102,8 mil.

Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Alberto Goldman (SP), também acredita que a renúncia de Costa Neto será "a primeira de uma lista". Ao mesmo tempo, no entanto, ressalvou que isso não trará nenhum tipo de pressão adicional para o presidente nacional do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), suspeito de ter formado caixa dois na campanha eleitoral de 1998, quando concorreu à reeleição ao governo de Minas Gerais, na qual teria utilizado agências de publicidade do empresário Marcos Valério.

"O senador Azeredo é uma pessoa acima de qualquer suspeita", afirmou Goldman. De acordo com suas informações, na eleição de 1998, a DNA, agência de publicidade de Marcos Valério, tinha como sócio Clésio Andrade, candidato a vice-governador na chapa de Azeredo, e destinou recursos para a campanha como fazem outras empresas. "Portanto, não estamos no mesmo balaio em que estão PT, PL e PP."

O líder do PSDB também observou que a renúncias dos parlamentares não elimina a necessidade de responderem na Justiça por seus atos.