Título: Tesoureiro do PL seria destinatário dos R$ 7,1 milhões da Guaranhuns
Autor: Fausto MacedoSérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A10

Os R$ 7, 1 milhões transferidos pela SMPB Comunicações para a conta da Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações teriam como destinatário Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL. A revelação - feita a interlocutores pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, dono da SMPB e suposto condutor do mensalão -, reforça ainda mais a suspeita de que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, recebia mesada do empresário mineiro. Até agora, a CPI constatou que o próprio Lamas recebeu R$ 1, 35 milhão em dinheiro vivo, resgatado do Rural em Brasília. A Guaranhuns é uma das quatro corretoras e empresas de intermediação financeira que poderão ter aberto o sigilo, incluindo dados bancários, fiscais e telefônicos, por suposto envolvimento com o esquema do mensalão.

Essas corretoras teriam repassado valores para o PT e partidos aliados. Rastreamento promovido pelos técnicos e auditores da CPI indica que as financeiras fizeram a ponte para transferência de R$ 13, 58 milhões. Parte desse montante pode ter sido enviado a paraísos fiscais.

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) requereu formalmente a quebra do sigilo global da Guaranhuns, sob argumento de que a empresa operou "um esquema de lavagem de dinheiro, seja pela sua natureza societária, seja pela estranha relação que mantinha com a SMPB, recebendo vultosos valores em troca de serviços de que não se tem notícia".

A Guaranhuns fez saques, que somam R$ 7, 1 milhões, das contas da SMPB no Banco Rural. José Carlos Batista, que detém 1% das cotas da empresa sustenta ser seu único controlador. Mas a CPI constatou que 99% das cotas da Guaranhuns pertencem à Esfort Trading S/A,. sediada no Uruguai.

"Por todas essas evidências é patente a situação de existência de um esquema de ocultação dos verdadeiros destinatários dos valores sacados pela Guaranhuns", assinala Álvaro Dias. Para ele, Valério obteve tais recursos "através dos generosos contratos públicos e empréstimos igualmente benevolentes". Esse favorecimento teria sido patrocinado pelo ex-ministro José Dirceu (Casa Civil). "Não tenho nenhuma dúvida de que o escândalo morou durante um bom tempo no quarto andar do Palácio do Planalto. Não há como excluir o ex-ministro dessas investigações. Tudo indica que ele tenha sido realmente um dos principais arquitetos desse plano, obviamente consultando o presidente da República." Além da Guaranhuns, existem mais três empresas investigadas em São Paulo: a Athenas Tradding, que recebeu R$ 1,97 milhão; a By Brazil Tradding, que recebeu R$ 968 mil; e a corretora Bônus Banval, que recebeu diretamente R$ 2,94 milhões da 2S Participações (uma das empresas de Valério).

A filha do deputado José Janene (PP-SP), Michele, já trabalhou na corretora Bônus Banval. Essa corretora reconhece apenas um desses saques em dinheiro vivo, no valor de R$ 255 mil, realizado pelo auxiliar Benoni Nascimento em 10 de setembro de 2004. Os outros saques, feitos por Luiz Carlos Mazano (R$ 50 mil) e Áureo Macato (R$ 300 mil), identificados pela CPI como funcionários da corretora, não são reconhecidos pela Bônus-Banval. No caso de Mazano, a empresa sugere que o RG de seu funcionário foi usado por outra pessoa, e no caso de Macato há a negação de que ele tenha "qualquer relação com a corretora". O advogado da corretora, Antônio Sérgio Pitombo, diz que a empresa pode estar sendo vítima de "contra-informação" e, por isso, está fazendo uma auditoria interna para apurar esse caso.