Título: PF investiga Barbosa, o misterioso contador do PP
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A10

A Polícia Federal investiga os passos de um novo personagem do esquema do mensalão. Barbosa, assim o conhecem, é apontado como o verdadeiro coordenador dos pagamentos à cúpula do Partido Progressista. Contador autônomo estabelecido em Taguatinga, cidade-satélite de Brasília, ele é o tesoureiro do PP. Os altos dirigentes do partido dizem não saber nem o nome completo do homem a quem confiam segredos e finanças do PP. Mas tratam-no com deferência.

A Polícia Federal vai fazer uma busca no escritório de Barbosa e lá espera encontrar dados importantes sobre o mensalão e o fluxo de caixa do PP. Barbosa tem ligações com Simone Reis Vasconcelos, diretora-financeira da SMPB Comunicação, empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto condutor do mensalão.

O nome do tesoureiro do PP aparece pela primeira vez na história das mesadas do Congresso a partir do relato do economista João Claudio de Carvalho Genu à Polícia Federal.

Agente administrativo do Ministério da Agricultura, renda mensal líquida declarada de R$ 20 mil, chefe de gabinete do deputado José Janene (PP-PR) - líder do partido na Câmara que teria sido beneficiário do esquema -, João Genu confessou sexta-feira ao delegado federal Luiz Flávio Zampronha que "realmente recebeu quantias em dinheiro a pedido da direção do PP".

ORIENTAÇÃO

Genu atribuiu a Barbosa a "orientação" para os pagamentos. "O Barbosa ligava para mim avisando da necessidade de receber o dinheiro", declarou Genu. "Eu recebia as ligações no gabinete do deputado Janene e também na Comissão de Minas e Energia ou na liderança do partido."

Ele declarou ainda que confirmava com Janene e o deputado Pedro Correia (presidente do PP) a procedência do pedido de Barbosa. O chefe-de-gabinete do líder do PP afirmou que somente ia receber o dinheiro com a "confirmação expressa" de Janene e Correia.

"Não sei por que o Barbosa não ligava diretamente aos deputados", declarou Genu. Ele alegou "não saber" quem informava Barbosa da necessidade de buscar as quantias de dinheiro com Simone. "O Barbosa me orientava a ligar para a Simone e combinar as retiradas."

Genu revelou também vários detalhes das relações de Janene com a corretora Bônus-Banval. Uma filha do deputado, Michele, trabalhou nessa corretora. "O deputado ia à sede da Bônus-Banval", informou Genu. O chefe-de-gabinete disse, no entanto, que "desconhece os motivos" de a empresa 2S Participações, que também é de Marcos Valério, ter realizado depósitos em benefício da corretora.

CONVITE

Genu informou já ter trabalhado com os deputados federais Mendes Ribeiro (PMDB-RS), Paulo Mandarino (PDC-GO), Rubem Medina (PFL-RJ) e Reinaldo Betão (PL-J). E que assessora Janene desde 2003. Foi para o PP "a convite" de Janene e de Pedro Correia. Ele declarou ter ido à sede do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) "aproximadamente cinco vezes, acompanhando pessoas do Partido Progressista".

"Eu tenho conhecimento que o diretor comercial do IRB, Luiz Lucena, era vinculado ao PP", contou Genu. "Uma vez acompanhei o deputado Janene em visita ao IRB. Também fui com o deputado em várias outras empresas - Furnas, Eletrobrás e Petrobrás."

Ele disse que, depois de ser acionado pelo tesoureiro Barbosa, se encontrava com Simone Reis, geralmente na sede do Banco Rural em Brasília. "Eu entregava uma pasta 007 à Simone e ela colocava o dinheiro na pasta. Eu não conferia o valor. Eu não sabia quanto a Simone entregava."

Uma vez o encontro com Simone Reis foi no Hotel Gran Bittar. "Ela me deu um envelope com dinheiro, era um envelope grande", revelou. Mas a maioria dos encontros era mesmo no Rural. "A Simone vinha ao meu encontro e pegava a maleta para colocar o dinheiro."

Após a coleta, Genu fazia o transporte até o 17.º andar do Anexo 1 do Senado. "Eu entregava lá o dinheiro do Barbosa. Todos os recebimentos que fiz foi a pedido do Barbosa", denunciou João Claudio Genu à Polícia Federal.