Título: PF liga caixa 2 a assessor de Lula
Autor: José Antonio Pedriali
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A11

O chefe de gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Carvalho, enviou dinheiro para abastecer o suposto caixa 2 da campanha eleitoral do ano passado em Londrina, quando o prefeito Nedson Micheleti, do PT, foi reeleito. A informação foi divulgada ontem por uma fonte da Polícia Federal que teve acesso ao depoimento de Soraya Garcia, ex-assessora financeira da campanha e autora da denúncia sobre a existência do caixa 2. Soraya, filiada ao PT, também teria mencionado a participação no esquema do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, e do presidente do PT do Paraná, o deputado estadual André Vargas. Ambos negam.

Segundo Soraya, o PT gastou R$ 6,5 milhões de reais para reeleger Micheleti, enquanto a prestação de contas do partido registra apenas R$ 1,3 milhão. Ela prestou depoimento aos delegados Sandro Roberto Vianna dos Santos e Kandy Takahasi, no inquérito aberto sexta-feira por solicitação do Ministério Público Eleitoral.

O MP e a PF realizaram buscas nas residências de três dirigentes petistas em busca de provas, mas nada encontraram. Santos, que chefia a PF, não confirmou a denúncia sobre a eventual participação de Carvalho, mas também não a desmentiu.

A ex-assessora disse que não revelaria à imprensa detalhes do depoimento para "preservar" as investigações. Ela reconheceu, no entanto, ter tido contato apenas uma vez com a direção nacional do PT para solicitar o envio de uma nota fiscal referente à doação de camisetas. Mas, de acordo com a fonte da PF, ela confessou que o chefe de gabinete do presidente foi procurado "várias vezes" para socorrer financeiramente a campanha de Micheleti.

Carvalho é natural de Londrina e irmão da secretária-executiva do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Márcia Lopes, que era vereadora pelo PT até assumir esse cargo, no ano passado. Ele foi um dos colaboradores mais próximos do prefeito de Santo André, Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, a quem serviu como secretário de Comunicação e de Governo.

À imprensa, Soraya não confirmou, além da participação de Bernardo, o envolvimento de outros dirigentes nacionais do PT no esquema do caixa 2. Lembrou, porém, que visitaram Londrina durante a campanha vários ministros e o então presidente da sigla, José Genoino. Ela se recusou a dizer se a chegada de recursos não contabilizados teria ou não coincidido com a presença deles na cidade.

No final de setembro, disse ela, sem se referir à presença de lideranças do partido na cidade, a campanha teria recebido recursos em notas de R$ 100 etiquetados pelo Banco do Brasil. Ela não especificou o valor dessa remessa.