Título: Rural omitiu dados sobre saques de R$ 7,2 mi
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A11

O Banco Rural está retendo informações de pelo menos 41 saques em dinheiro das contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, num total de R$ 7,2 milhões, que podem esconder contribuições para políticos e assessores partidários ainda não identificados. Esse valor corresponde às retiradas diárias de dinheiro que constam nos relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), mas não aparecem nos documentados entregues pelo banco mineiro à CPI dos Correios. No total, os dados reunidos pela comissão permitem identificar 220 retiradas em dinheiro entre março de 2003 e maio de 2005 - uma média de um saque a cada três dias. Isso totaliza R$ 35,9 milhões sacados na boca do caixa das contas da SMPB e da DNA por meio de cheques emitidos em nome das próprias empresas, mas endossados para terceiros.

Desse montante, a CPI já sabe quem sacou - ou em nome de quem foi sacado - R$ 28,7 milhões. A lista inclui o nome de sócios e funcionários das agência de publicidade, além de parlamentares ou parentes e assessores de deputados, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e outros cinco petistas.

Esses nomes foram identificados porque o Rural apresentou os registros desses saques, como os cheques originários e os documentos de autorização para que as pessoas indicadas por Valério retirassem o dinheiro. No relatório do Coaf, entretanto, há o registro de outros 41 saques sobre os quais o banco não apresentou qualquer documento.

"Isso é mais uma comprovação de que o Rural não tem cooperado com a CPI. Só vamos obter as informações necessárias se fizermos uma operação de busca e apreensão no centro de processamento de dados do banco", afirma o deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS).

Para os oposicionistas, é provável que o banco mineiro esteja escondendo documentos com o nome de outros políticos que ainda não foram atingidos pelo escândalo do "mensalão". Na prática, o número de cheques sacados pode ser até maior do que 41, já que o Coaf muitas vezes faz apenas um registro com a soma de vários saques no mesmo dia.

A maior parte dos saques "não-identificados" se concentra no período entre 26 de setembro de 2003 e 13 de novembro de 2003. Nesse período de um mês e meio, logo após a aprovação das emendas da reforma previdenciária e tributária na Câmara dos Deputados, foram retirados R$ 3,75 milhões das contas de Marcos Valério cujo destino foi omitido pelo Rural.

MISTÉRIOS

Além dos saques sobre os quais não há informação completa na CPI, existem aqueles sobre os quais pairam "mistérios". É o caso, por exemplo, dos R$ 50 mil que a SMPB autorizou que fosse sacado no Rural da Avenida Paulista, em 15 de junho de 2004, por Roberto Marques.

O nome é igual ao de um assessor do ex-ministro José Dirceu, mas não existe nenhum número de documento que comprove isso.

Para aumentar o mistério, esse personagem de nome Roberto Marques não compareceu à agência em 15 de junho para pegar o dinheiro, e a SMPB encaminhou uma nova autorização no dia seguinte para uma outra pessoa fizesse o saque. Essa outra pessoa é Luiz Carlos Mazano, cujo RG foi identificado pela CPI como sendo de um funcionário da corretora paulista Bônus-Banval.

O mencionado Mazano reconhece como sendo seu o número de RG utilizado, mas nega que tenha sido ele quem esteve no banco. A Polícia Federal deverá fazer uma perícia na assinatura do recibo de saque para tirar a dúvida a limpo.