Título: Na PF, Simone revela nomes de sacadores das contas de Valério
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A12

Em depoimento ontem à Polícia Federal, em Brasília, a diretora-financeira da agência de publicidade SMPB, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, apresentou uma lista com o nome de vários sacadores das contas no Banco Rural da SMPB Comunicação e da agência DNA - empresa de Marcos Valério Fernandes de Souza, suposto operador do mensalão.

São sete os nomes que Simone revelou à PF: João Claudio Genu, chefe-de-gabinete do deputado José Janene (PP-PR), líder do Partido Progressista na Câmara; Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL; Jair dos Santos, motorista do ex-deputado José Carlos Martinez (PTB-PR) que sacou cinco vezes no Rural; Emerson Palmieri, ex-tesoureiro do PTB, indicado por Martinez; Pedro Fonseca; José Luís Alves (secretário de Governo de Anderson Adauto, ex-ministro dos Transportes, prefeito de Uberaba); e Roberto Costa Pinho.

Antropólogo, Costa Pinho é assessor do ministro Gilberto Gil (Cultura). Ele foi auxiliar de Antônio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto (SP) e trabalhou em uma empresa que cuidou da campanha do senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito dos Correios.

Aos sete sacadores Simone disse ter repassado R$ 7, 9 milhões.

Segundo fontes da PF, os sacadores seriam os mesmos já descobertos nas investigações da CPI dos Correios. A lista de Simone teria 52 nomes, o que não foi confirmado pela PF, segundo anunciaram seus advogados antes do depoimento.

Detalhe que a PF considerou importante no relato de Simone. Ela disse que Marcos Valério lhe contou que o dinheiro repassado à Guaranhuns Empreendimentos, Intermediações e Participações S/C Ltda era destinado ao presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que ontem renunciou ao mandato de deputado por São Paulo.

A Guaranhuns é controlada por uma offshore sediada em Montevidéu. A CPI dos Correios pretende quebrar o sigilo da empresa pois suspeita que o esquema do mensalão também efetuou remessas ilegais para paraísos fiscais.

AMIGO

Simone disse que "não conhece" Roberto Marques, amigo e assessor do deputado José Dirceu (PT-SP). Marques teria sido beneficiário de saque de R$ 50 mil de uma conta da SMPN no Banco Rural. Ela negou que fizesse parte de sua lista de sacadores o nome de Roberto Marques.

A CPI dos Correios tem um documento em que uma pessoa chamada Roberto Marques teria recebido autorização para fazer o saque de R$ 50 mil. Marques não teria feito esse saque diretamente, e sim por intermédio de outra pessoa, chamada Luiz Carlos Mazano, identificado como funcionário da corretora Bônus-Banval. Marques nega que tenha feito qualquer saque ou sequer tenha ido a alguma agência do Banco Rural. Nega ainda relação com o saque feito por Luiz Carlos Mazano.

CAIXA 2

Simone Reis afirmou que "não era a única" que fazia a entrega de valores. Segundo a procuradora da República Raquel Branquinho, que acompanhou o depoimento na sede da PF, Simone afirmou que os empréstimos do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza ao PT se destinavam à formação de caixa 2 para pagar dívidas das campanhas de 2002 e financiar futuras campanhas.

Trata-se da mesma versão dada por Valério e pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Os dois negaram a existência do mensalão.

CONFISSÃO

Simone afirmou ainda à PF que o dinheiro emprestado ao PT era de Marcos Valério. Ele e "outros diretores da SMPB" lhe passavam os nomes dos políticos para os quais deveria fornecer o dinheiro. Segundo Fernanda Karina Somaggio, a ex-secretária do empresário Valério, era Simone quem distribuía o dinheiro a deputados da base aliada do governo.

Este foi o segundo depoimento de Simone à PF. No primeiro, ela confessou como funcionava o esquema de pagamentos, mas omitiu nomes. A diretora-financeira da SMPB afirmou que no Rural sacava "valores superiores" a R$ 50 mil e "imediatamente entregava tais recursos a pessoas desconhecidas".