Título: Lula diz que desiste da reeleição se tiver de 'negociar com o capeta'
Autor: Tânia Monteiro e Leonencio Nossa
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/08/2005, Nacional, p. A14

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em audiência a portas fechadas no Planalto, que não tem "rabo preso" com ninguém e não vai "negociar com o capeta" para garantir a reeleição. O relato foi feito por representantes do Sindicato Nacional dos Aposentados e Pensionistas da Força Sindical, com quem ele se reuniu no início da noite. Segundo os visitantes, Lula disse que só tentará a reeleição se sentir que pode fazer um segundo mandato melhor que o primeiro.

"A reeleição é um assunto que preciso discutir no momento certo. Agora, abro mão da reeleição se for preciso leiloar ministérios e não puder melhorar a economia e distribuir mais renda", disse Lula, conforme o presidente do sindicato, João Batista Inocentini. "Se for fazer um governo igual ou pior a este, não serei candidato."

Segundo os aposentados, Lula disse estar pronto até para a abertura de suas contas bancárias. "Há 60 dias estou apanhando igual gente grande e não me atingiram. Desafio deputados e senadores que pegam no meu pé a abrirem as contas, mostrarem os patrimônios. Podem vasculhar que não chegam ao meu governo, não chegam a mim."

Ele repetiu que não sabia do mensalão. "Não posso acreditar. Não tem corrupção no meu governo. Pode ser que alguns integrantes do meu partido ou de outros partidos erraram, pegaram dinheiro por aí, mas sem a minha autorização."

Lula lembrou que sempre foi contra a reeleição. Mas reclamou de o ex-presidente Fernando Henrique sugerir que não tentasse novo mandato. "Ele foi muito infeliz. Não é esse o papel dele. Fernando Henrique, por exemplo, rifou tudo para se reeleger." Lula teria reconhecido que está "mal" no momento. "Se eu precisar comprar tudo, negociar tudo, como o Fernando Henrique, ah, aí eu não saio (candidato)", insistiu.

TAXISTAS

Mais cedo, ao discursar de improviso para 200 taxistas ligados ao sindicato da categoria no Distrito Federal, Lula voltou a defender a "honra" como único patrimônio dos mais pobres e disse que seu governo está voltado para os trabalhadores. "Estejam certos de uma coisa, independentemente do que aconteça daqui para frente neste país, independentemente de ser candidato ou não, isso não está em jogo. O importante é que todos os trabalhadores brasileiros conquistem, neste nosso mandato, o direito de viver com dignidade e a decência que todo trabalhador precisa ter."