Título: João Paulo nega saques no valor de R$ 200 mil
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/08/2005, Nacional, p. A9

O ex-presidente da Câmara, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), negou ontem ter efetuado ou mandado efetuar saques no valor de R$ 200 mil em contas relacionadas a Marcos Valério Fernandes de Souza ou às empresas do empresário, apontado como operador do mensalão. Ele disse em nota à imprensa que "o único saque realizado a seu pedido em uma dessas contas foi o de R$ 50 mil, já divulgado e confirmado". O saque admitido por João Paulo foi feito pela mulher dele, Márcia Milanêsio, na conta da SMPB na agência do Banco Rural do Brasília Shopping, conforme revelou apuração da CPI dos Correios. No texto, João Paulo afirma que "em breve" explicará publicamente "todas as circunstâncias" que envolvem o saque.

Até ontem existia a expectativa, mesmo entre integrantes da cúpula petista, de que o ex-presidente da Câmara renunciasse, seguindo o caminho do presidente do PL, Valdemar Costa Neto (SP). Mas, pela manhã, João Paulo recebeu em sua residência os colegas de partido Paulo Rocha (PA), ex-líder da bancada na Câmara, e o Professor Luizinho (SP), ex-líder do governo, e negou qualquer idéia de renúncia.

"Não tem nada disso", afirmou. Paulo Rocha e Luizinho, que também tiveram os nomes envolvidos no escândalo, com saques de R$ 920 mil e R$ 20 mil, respectivamente, e cujas renúncias também eram esperadas, seguiram o exemplo de João Paulo e negaram.

À tarde, os três voltaram a se reunir no gabinete do ex-presidente da Câmara e acompanharam juntos parte do depoimento do ex-ministro da Casa Civil deputado José Dirceu (PT-SP), no Conselho de Ética.

MAIS NEGATIVAS

O PL também divulgou nota ontem na qual afirma que o ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente do partido, não é proprietário nem tem participação na empresa Guaranhuns. Na nota assinada pela assessoria de imprensa, o partido confirmou que Costa Neto recebia recursos do PT para "honrar compromissos assumidos na campanha de 2002" .

O deputado Romeu Queiroz (PTB-MG) também divulgou uma nota para negar que recebeu R$ 350 mil da SMPB, conforme declarou a gerente-financeira da agência de publicidade, Simone Vasconcellos, em depoimento prestado à Polícia Federal, na segunda-feira. Queiroz diz ter sido "porta-voz de um pedido de ajuda de recursos para o PTB".

Ele afirma que no final de 2003, o então presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), lhe pediu ajuda para angariar recursos para o partido: "Conversei com o então diretor do DNIT, Carlos Cotta, que sugeriu um encontro com o então ministro dos Transportes, Anderson Adauto".

DE IMEDIATO

Queiroz acrescenta que dias depois eles foram recebidos pelo ex-ministro, que levou o pedido, "de imediato", ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares. "Recebi orientação para procurar a agência de publicidade, em Belo Horizonte, onde receberia os recursos. Como estava de viagem marcada, para um período de férias com a família, incumbi meu chefe de gabinete, José Hertz, da tarefa de buscar o dinheiro e entregá-lo ao secretário do PTB, Emerson Palmieri", diz.

Queiroz afirma ainda que no início do ano passado Hertz foi orientado pela SMPB a buscar os recursos em duas agências bancárias e que recebeu "dois pacotes lacrados". Os pacotes foram entregues, segundo Romeu Queiroz, a Palmieri. "Desconheço a quantia exata dos recursos contidos nos citados pacotes e o destino a eles dado."

Na nota, Romeu Queiroz informa ainda que vai entregar às CPIs dos Correios e do Mensalão cópias autenticadas de recibos bancários que comprovam o destino de recursos postos à disposição dele pela Usiminas para ajudar candidatos de sua base eleitoral, no ano passado.

De acordo com o deputado, os recursos oferecidos pela Usiminas totalizavam R$ 150 mil e seriam repassados pela SMPB. O saque foi efetuado no Banco Rural por Paulo Nunes, um amigo do deputado. O valor líquido, segundo a nota, chegou a R$ 102.812,76, sacados em agosto de 2004 e repassados para as campanhas municipais. "Não poderiam, portanto, constar de declarações de minha responsabilidade", justifica.