Título: Denúncia: EUA mantêm 70 mil presos no exterior
Autor: Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Internacional, p. A17

A Anistia Internacional alerta que a prisão na base americana em Guantánamo é apenas "a ponta do iceberg" de uma situação criada pelo governo dos EUA nos últimos anos. Segundo um relatório divulgado pela entidade, os EUA estariam mantendo cerca de 70 mil pessoas detidas em bases e prisões secretas fora do território americano. Em Guantánamo, a maioria dos 500 detentos foi capturada durante as guerras no Afeganistão e no Iraque e se encontra numa situação de detenção indefinida e sem julgamento. O relatório da Anistia tem como base as informações passadas por duas testemunhas, Salah Salim Ali e Muhammad Faraj Ahmed, ambos do Iêmen, detidos sem julgamento por 18 meses por supostas ligações com grupos terroristas. Ambos contam que foram levados para prisões secretas em 2003 e ficaram em confinamento solitário, sem contato com advogados, organizações humanitárias ou parentes durante esse período. Eles afirmam que até hoje não sabem em que país estavam presos e tudo que puderam perceber é que as celas eram subterrâneas. Em maio de 2005 eles foram finalmente entregues ao governo do Iêmen, onde foram postos em prisões comuns.

Para Sharon Cristoph, da Anistia, o que ocorreu com essas duas testemunhas é exemplo do que muitos outros estão sofrendo. Seria ainda uma mostra de como o governo americano estaria atuando na "guerra contra o terrorismo".

A Anistia quer agora que Washington publique uma lista de todas as pessoas detidas em segredo, assim como o local onde são mantidas. A entidade pede também que essas prisões sejam abertas para a visita de organizações humanitárias. Sem nenhum monitoramento, essas prisões secretas seriam locais ideais para torturas e outras violações de direitos humanos.

A própria ONU já vem alertando que o governo dos EUA está impedindo a visita de seus relatores especiais às bases usadas como prisão. Para o relator da ONU contra a tortura, Manfred Nowak, o fato de Washington estar negando informações leva os especialistas a concluir que o governo Bush "tem algo a esconder do público". Os relatores fizeram inúmeras solicitações para visitar acusados de terrorismo detidos não só em Guantánamo, como em prisões americanas no Iraque e Afeganistão. Sem a cooperação americana, os especialistas da ONU optaram por abrir investigações independentes sobre Guantánamo. Os resultados da investigação serão anunciados até o fim do ano.