Título: 'Se querem respeito, me respeitem'
Autor: Angela Lacerda e Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A4

A seguir, o principal trecho do discurso feito ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Garanhuns. Na mesma fala, o presidente também tratou do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), atacou os antecessores - "não é todo presidente que tem coragem de vir perto do povo pobre" - e prometeu voltar à cidade natal para visitar as obras da extensão da Universidade Rural de Pernambuco. "Eu sou um homem calejado, eu apanhei muito na vida, eu nunca, nunca na minha vida tive alguma coisa que eu não tivesse que lutar que nem um desgraçado para conquistar, nunca. E quem conhece a minha família, quem conhece os meus irmãos, sabe que é assim. Nós estamos vivendo uma crise política, uma crise política em que todo dia tem uma denúncia aqui, uma denúncia ali, outra denúncia acolá. E até agora, como não tem o resultado da CPI, vamos aguardar, porque a CPI é uma coisa importante para a investigação. Eu só espero que, quando terminar a CPI, os culpados sejam entregues num processo ao Ministério Público para serem processados. Espero que o Ministério Público mova uma ação e quem deve pagar pagará, seja do PT, seja católico ou evangélico, seja do PMDB, não tem cor, não tem raça, não tem sexo, não tem ideologia, todos precisam pagar. Mas também eu peço que aqueles que não cometeram nenhum delito e que os seus nomes ocuparam manchetes de jornais, na hora em que for provado que eles são inocentes, que pelo menos a imprensa brasileira divulgue e peça desculpas àqueles que foram acusados injustamente. Vamos ser duros com os culpados e vamos ser justos com os inocentes porque, muitas vezes, o que a gente percebe é que mistura o arroz com a casca e depois a gente não sabe se vai separar o joio do trigo. E eu acho que pode ter muitos culpados e pode ter muitos inocentes. E a única coisa que um presidente da República pode querer é que haja justiça, para o bem e para o mal.

Por isso é que eu quero que vocês saibam o seguinte: eu já vi nos jornais alguém dizer: 'Precisamos fazer o presidente Lula sangrar, para ele chegar fraco na eleição de 2006.' Eu ainda nem disse que sou candidato. Mas tem gente que fala: 'É preciso fazer ele sangrar, para ver se ele chega fraco às eleições.' Outros dizem: 'Ah, seria bom se o presidente Lula não concorresse à reeleição.' Ora, não fui eu que aprovei a reeleição. Pelo contrário, o mandato era maior. Com medo que eu ganhasse em 2004, eles diminuíram. Depois, eles ganharam, e aumentaram. Eu, na Constituinte, votei para não ter reeleição. Mas agora dizer que eu não posso concorrer, com base em quê? Com medo de que eu possa provar que em quatro anos fiz mais do que eles fizeram em oito anos. Penso que é preciso a gente sempre ficar atento a tudo que a gente lê, a tudo que a gente vê. A gente tem que saber o que é verdade, o que é mentira, quem quer apurar ou quer fazer carnaval, quem está tentando ajudar ou quer atrapalhar, porque tem gente que dizia: 'O Lula não pode ganhar as eleições porque ele não fala inglês, como é que vai ser a relação dele com o mundo?'

O resultado, meus queridos governadores é que, desde que entrei no governo, todo mês nós batemos recordes de exportação neste país. O dado concreto é que o Brasil nunca teve a credibilidade que tem lá fora porque o que eu não aprendi na escola eu aprendi de uma mulher analfabeta, que é ter dignidade e ter vergonha na cara, respeitar e ser respeitado. É isso que eu faço com os outros e é isso que eu quero que façam comigo. Se querem respeito, me respeitem, porque eu não devo a minha eleição a favor de ninguém, eu devo a minha eleição ao povo deste país, que acreditou e votou. É a eles que eu prestarei contas no momento certo.

Eu nunca disse a ninguém, estão aqui governadores e prefeitos, ministros e deputados, eu nunca disse se seria ou não candidato à reeleição, até porque eu tenho o compromisso de governar, no momento certo eu direi. E vou dizer: se eu for, com ódio ou sem ódio, eles vão ter que me engolir outra vez, porque o povo brasileiro vai querer.

Muito obrigado, companheiros e companheiras, e até outro dia, se Deus quiser."