Título: 'Presidente, chega de fingir que não tem nada a ver com isso', reage Tasso
Autor: Ana Paula Scinocca, Carlos Marchi e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A5

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) rebateu duramente o discurso feito ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Garanhuns: "Chega, presidente, de fingir que não tem nada com isso." Para ele, os discursos "têm passado dos limites do que a oposição pode aturar" e o presidente ainda não entendeu a gravidade da crise. As declarações de ontem provocaram fortes reações na oposição - o governador Aécio Neves pediu serenidade a Lula; o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) disse que a fala foi uma provocação.

Até um deputado do PT, amigo de Lula desde os tempos do sindicalismo do ABC, criticou o discurso. "Acirrar os ânimos num momento como esse não resolve o problema", disse o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos mais empedernidos defensores do presidente.

Tasso disse que a oposição se cansou de preservar Lula, diante dos sucessivos discursos em que ele "abre mão de sua responsabilidade, declarando-se alheio tudo o que o País está vendo".

Para o senador cearense, "isso prova que ele não tem condições de ser um líder, um presidente responsável pelo que ocorre na administração". E acusou Lula de "fazer uma farsa enorme, dando a impressão de que apenas dois ajudantes de segunda categoria realizaram todos os atos irregulares".

De Minas, Aécio se disse surpreso com o discurso e comentou que o caminho de uma possível reeleição "exige que o presidente, mantendo a serenidade, construa as condições para eventualmente conquistá-la". E observou: "Mas uma eventual reeleição vai depender, exclusivamente, dos eleitores brasileiros, e não da oposição ou dele mesmo."

O governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, preferiu contornar o discurso de Lula e comentar o instituto da reeleição. "Sou contra acabar com a reeleição porque é muito pouco tempo para fazer uma avaliação sobre ela. A gente é muito mudancista. Aprova uma coisa, não deixa nem avaliar melhor e já quer mudar de novo", comentou. Aécio lembrou que não partiu da oposição qualquer proposta para impedir Lula de disputar a reeleição.

PROVOCAÇÃO

O deputado ACM Neto avaliou que Lula quer desviar o foco das investigações e trazer a questão eleitoral para o debate. "Enquanto a oposição tem demonstrado preocupação em não elevar o tom, ele acaba elevando. E está sendo provocativo. Trata-se de um comportamento pouco apropriado para um presidente da República", assinalou.

O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), considerou que Lula "representa um perigo para o País". Ele lembrou uma passagem da campanha tucana em 2002 - quando a atriz Regina Duarte apareceu num comercial dizendo temer a eleição de Lula e disse: "Eu pergunto ao presidente Lula: o senhor não acha que as pessoas hoje dão razão a Regina Duarte?"

O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que o tom do discurso do presidente revela que acabou a fase do "Lulinha Paz e Amor". E criticou: "Aquilo foi só na campanha. Agora está de volta o discurso rancoroso, cheio de mágoa." Dias afirmou que o presidente "não tem mais como se mostrar inocente e desinformado do esquema de corrupção investigado pela CPI dos Correios.

O prefeito José Serra disse, a propósito do discurso, que "o presidente Lula está exaltado, num momento em que deveria manter a serenidade".