Título: Pizzolato queria favorecer Portugal Telecom
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A6

O conselho deliberativo da Previ determinou que o fundo de pensão vendesse as participações acionárias, diretas e indiretas, na Telemig Celular e na Amazônia Celular em 22 de outubro de 2004, três dias depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter recebido, no Palácio do Planalto, o empresário Miguel Horta e Costa, presidente da Portugal Telecom, principal interessada na compra. A Portugal Telecom tem 50% da Vivo, maior operadora de telefonia móvel do País, que não está presente em Minas Gerais, área de atuação da Telemig Celular. Em várias ocasiões, executivos da Portugal Telecom e da Vivo manifestaram interesse em comprar a Telemig Celular, mas, segundo informações de mercado, não chegaram a um acordo com o Opportunity do banqueiro Daniel Dantas, maior acionista da empresa. A Previ participa do bloco de controle da Telemig ao lado do Opportunity, com quem está em conflito.

Henrique Pizzolato, que aparece na lista entregue pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza como sacador de R$ 2.676.660,87 da conta da SMPB no Banco Rural, era então presidente do conselho da Previ e diretor de Marketing do Banco do Brasil. A direção executiva do fundo de pensão do banco estatal não acatou a decisão do conselho - por considerar a venda um mau negócio -, iniciou-se um confronto no fundo e, ao que tudo indica, entre integrantes do governo.

Sérgio Rosa, presidente da Previ, foi indicado para o cargo por Luiz Gushiken, ex-secretário de Comunicação do governo. Gushiken travava uma disputa acirrada com o dono do banco Opportunity, Daniel Dantas. Há cinco anos, Dantas, que administra os investimentos dos fundos de pensão das operadoras de telefonia, tenta afastá-los dos negócios.

A briga resultou em dezenas de ações judiciais. Procurada, a direção da Previ não se pronunciou a respeito.

Henrique Pizzolato também não respondeu aos telefonemas do Estado. Representantes da mesma ala petista na Previ durante a gestão passada, Pizzolato e Rosa hoje estão em lados opostos na direção do fundo. Pizzolato, que seria alinhado ao grupo de José Dirceu, ex-ministro-chefe da Casa Civil, é apontado como defensor dos interesses de Daniel Dantas na Previ.

Na sessão de anteontem na Comissão de Ética da Câmara, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) declarou que o acesso dos executivos da Portugal Telecom a Lula foi facilitado por Dirceu, que estaria acertando com a empresa portuguesa o repasse de recursos para pagamento das campanhas do PTB e do PT. O ex-ministro negou, peremptoriamente, as declarações de Jefferson.

Em janeiro deste ano, Marcos Valério viajou a Portugal acompanhado do ex-tesoureiro do PTB Emerson Palmieri. O jornal português Expresso publicou no dia 16 de julho entrevista na qual o ministro de Obras Públicas de Portugal, Antônio Mexia, confirmava ter recebido Valério "na condição de consultor do presidente do Brasil" e "a pedido de Miguel Horta e Costa, presidente da Portugal Telecom". A nota foi lida ontem pelo deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) no plenário da CPI Mista dos Correios.

O Palácio do Planalto emitiu ontem nota negando "enfaticamente" que Marcos Valério tenha sido autorizado a se apresentar como consultor do governo em Portugal ou "em qualquer outra situação". Marcos Valério também divulgou nota desmentindo "veementemente" ter usado tal credencial durante a visita a Mexia.

LIMINAR

Em março deste ano, cinco meses depois da visita da Portugal Telecom ao Brasil e dois meses após a ida de Valério a Portugal, Daniel Dantas chegou a anunciar o leilão de ações da Telemig e informou que a Portugal Telecom liderava a disputa pela compra dos títulos.

O leilão foi suspenso por uma liminar concedida em Nova York ao Citibank, sócio dos fundos de pensão brasileiros na empresa, que se sentiu lesado no negócio. O controle acionário da operadora é exercido por meio de uma intrincada rede de empresas que têm nos fundos Previ (Banco do Brasil), Sistel (antiga Telebrás), Petros (Petrobrás), Telos (Embratel) e Funcef (Caixa Econômica Federal) os principais investidores.