Título: Documento mostra Delúbio como avalista de Valério
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A8

Delúbio Soares, a quem o presidente Lula atribuiu o "enterro do PT", assumiu em julho de 2004, em documento de 9 linhas, "compromisso irretratável e irrevogável de garantir, como avalista e devedor solidário" todas as operações de empréstimos firmadas pelo BMG com as empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza - suposto condutor do mensalão -, e com o próprio Partido dos Trabalhadores. Sobre a origem dos empréstimos, Valério revelou que o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu deu aval político. Ele destacou que Delúbio o informou que Dirceu "teve reuniões com os dirigentes dos bancos" no momento em que os financiamentos eram negociados. Cópia do documento de Delúbio foi entregue na noite de terça por Marcos Valério ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que conduz a apuração sobre o esquema de mesadas no Congresso.

Os investigadores avaliam o compromisso do ex-tesoureiro do PT como revelador porque mostra que o partido também ajudou Valério. Isso altera a versão construída por Delúbio desde que as relações do partido com Valério se tornaram públicas. A CPI dos Correios trabalhava na linha de que o empresário é quem tinha atuado exclusivamente como avalista de empréstimos que o PT tomou. Com a nova versão, Valério procura assegurar o recebimento dos valores que já bancou porque o PT ameaçou não pagar aquilo que Delúbio executou sem anuência do diretório nacional.

Delúbio assina como pessoa física o documento - sem autenticação em cartório -, que o coloca como avalista de financiamentos que chegam a R$ 121 milhões, soma dos negócios firmados pelas empresas de Valério e pelo PT junto ao BMG e também ao Banco Rural. Os valores relativos aos empréstimos tomados pelas empresas de Valério foram repassados ao PT.

O patrimônio pessoal do ex-tesoureiro se resume a um saldo bancário de R$ 163 mil, segundo ele declarou à Polícia Federal. Para procuradores federais, o BMG só aceitaria Delúbio como avalista de Valério e do PT se tivesse certeza de que ele possui uma fortuna, bens móveis e imóveis suficientes para cobrir a totalidade dos empréstimos.

Eles também consideram intrigante o fato de que é genérica a declaração encaminhada à direção do BMG - sem especificações acerca das transações. O compromisso contempla "todas as operações" contraídas pela SMPB Comunicação Ltda, DNA Propaganda e Graffiti Participações. A SMPB e a Graffiti tomaram R$ 83, 4 milhões ao BMG entre fevereiro de 2003 e abril de 2004.

Delúbio também banca as operações do PT e do escritório Rogério Lanza Tolentino & Associados Ltda, que pegou outros R$ 10 milhões do BMG. Tolentino é sócio de Valério.

Valério declarou que, a pedido de Delúbio, foi ao BMG e ao Rural tomar os empréstimos. "Em alguns deles foram oferecidos como garantia créditos relativos a contratos de publicidade com o governo federal. Após sucessivas renovações fui pressionado pelos bancos a saldar as dívidas, ocasião em que apresentei um documento firmado por Delúbio e entregue ao BMG." Segundo ele, documento com o mesmo teor foi entregue ao Rural. "A partir daí os bancos passaram a ter conhecimento oficial da natureza e finalidade dos empréstimos."