Título: Entrevista a Ratinho teria custado R$ 2,1 mi
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A8

Incluído na lista dos que receberam dinheiro de Marcos Valério, o ex-líder do PMDB na Câmara José Borba (PR) pode acabar renunciando ao mandato para não revelar para quem foram os recursos. Boa parte dos R$ 2,1 milhões teria como verdadeiro destinatário o apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, seu compadre. O repasse seria para bancar espaço cedido pelo apresentador ao presidente Lula na "entrevista-churrasco" transmitida pelo Programa do Ratinho veiculado pelo SBT em 30 de abril de 2004. Na tentativa de dar mais veracidade à afirmativa de que não havia mensalão no PMDB e ele não embolsara dinheiro de Marcos Valério, Borba contou a dois integrantes da cúpula do PMDB que havia apenas intermediado um pagamento. E deu a entender que pode renunciar para encobrir o velho amigo.

Não existe, porém, nenhuma confirmação de que a iniciativa de "patrocinar" a entrevista tenha partido de Lula ou de algum integrante do governo. A Secretaria de Imprensa da Presidência divulgou nota informando que "a entrevista (a Ratinho) foi concedida atendendo à solicitação do apresentador, dentro de procedimento normal como todas as entrevistas que são pedidas e concedidas pelo presidente Lula".

Ao depor à CPI dos Correios ontem, a diretora-financeira da SMPB, Simone Vasconcelos, confirmou seis repasses a Borba. O ex-líder teria se recusado a assinar seu nome para retirar os valores do Banco Rural, porque não queria se identificar.

Um dos interlocutores do deputado diz que não é por acaso que o último repasse, no valor de R$ 1 milhão, foi entregue a Borba em 5 de julho de 2004. Àquela altura, o programa especial gravado na Granja do Torto, em Brasília, no dia 21 de abril, já havia sido exibido em rede nacional pelo SBT.

Colaboradores de Lula informaram na ocasião que a "entrevista-churrasco", com cinco horas de duração registradas por seis câmeras do SBT, era parte da ofensiva de marketing planejada pelo Palácio do Planalto. O objetivo era reverter a crise política e a queda de popularidade registrada em decorrência de uma série de greves no funcionalismo, uma onda de invasões do Movimento dos Sem-Terra (MST) e cobranças por um salário mínimo maior.

DEPRIMIDO

Os peemedebistas contaram que Borba está deprimido porque telefonou ao compadre pedindo autorização para revelar à imprensa o pagamento e ele lhe teria solicitado que não falasse nada e aguardasse um pouco mais. O pedido de Borba tem uma razão que vai além da amizade e do compadrio. É que o apresentador teria financiado a campanha do deputado. Ratinho teria colocado, inclusive, um jatinho para que ele percorresse o Paraná em campanha.

Os peemedebistas acreditam que Borba vai preferir a renúncia à delação pública de seu compadre e financiador de campanha, que "certamente" não teria declarado oficialmente o pagamento recebido.

Foi justamente a eleição de 2002 que aproximou Ratinho, que já foi deputado, e o candidato Lula, apoiado pelo PMDB de Borba no Paraná. Os contatos entre eles se estreitaram a ponto de a grande entrevista exclusiva ter sido acertada pelos dois em um café da manhã em Brasília, um mês antes do churrasco no Torto. A entrevista teria custado caro porque incluiu a participação especial da dupla sertaneja Bruno e Marrone, que cantou para e com Lula.