Título: Procurador vai rastrear aplicações feitas pelo IRB
Autor: Irany Tereza
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A8

O Ministério Público Federal requereu à presidência do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) a relação de todos os bancos e respectivas agências nos quais a autarquia tem ou teve aplicações financeiras entre 2000 e 2004. O objetivo, segundo o procurador Edson Abdon, é rastrear a origem e o destino do dinheiro movimentado pela instituição e verificar se houve alguma operação envolvendo o Banco do Espírito Santo (BES), de Portugal. O banco foi citado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que relatou ter sido procurado em abril pelo publicitário Marcos Valério para intermediar, junto ao IRB, transferência de US$ 600 milhões de um banco inglês para a instituição portuguesa.

Procurada, a direção do IRB declarou, por meio da Assessoria de Imprensa, que não há nenhuma aplicação da autarquia no BES. Informou, porém, que em 22 de abril deste ano o banco português apresentou "proposta de serviços financeiros para aplicação de um volume da ordem de US$ 100 milhões das reservas do IRB". A proposta foi recusada em maio pelo então diretor-financeiro, Alberto Pais, por não se enquadrar " na política de investimentos estabelecida pelo Conselho de Administração do IRB".

Os bancos nos quais existem aplicações do IRB no exterior são, segundo o instituto, o BB Securities, Goldman Sachs, Salomon Brothers, Deanwitter, Royal Bank of Scotland e Bayerische Landesbank AG.

Para rastrear o caminho do dinheiro movimentado pelo IRB, o Ministério Público quer também contatar os 25 brokers credenciados para intermediar operações do instituto.

Na semana passada, o procurador Abdon ouviu o depoimento de Dimas Toledo, ex-diretor de Engenharia de Furnas e apontado como a cota do PP, do deputado José Janene (PR) na estatal, que foi afastado durante a investigação do escândalo envolvendo o IRB e empresas estatais. Dimas contou ter ido ao apartamento funcional de Jefferson, em Brasília, no dia 13 de abril deste ano, confirmando a versão apresentada pelo deputado na CPI dos Correios.

Ele contou ainda que Jefferson realmente lhe disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia oferecido o cargo que ocupava em Furnas ao PTB, mas não repetiu, no Ministério Público, a tese da distribuição da sobra de lucro de Furnas.

De acordo com o relato de Jefferson, Dimas teria dito que todo mês sobravam R$ 3 milhões no caixa de Furnas. Desse total, R$ 1 milhão iria para o PT nacional, por meio de Delúbio Soares; R$ 1 milhão para o PT de Minas Gerais, por meio de Rodrigo Botelho Campos, então diretor de Administração de Furnas, também afastado para apuração das denúncias; R$ 500 mil ficariam com a diretoria de Furnas; e os restantes R$ 500 mil seriam repartidos entre um grupo de deputados ligados à estatal.

PATRIMÔNIO

"Aqui no MP Dimas disse que somente expôs ao deputado Roberto Jefferson o layout operacional de Furnas", comentou o procurador. Ele requereu à Receita a lista de bens de Dimas e está investigando quem financiou a campanha do filho dele, Dimas Fabiano Toledo Junior, eleito deputado estadual em Minas Gerais.

Abdon ficou impressionado com a lista de bens que o ex-executivo disse ter adquirido com as economias de mais de 30 anos como funcionário da estatal.