Título: Revelação de saques derruba presidente da Casa da Moeda
Autor: Fabiana Cimieri
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A9

Após ser citado pelo publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza como beneficiário de quatro saques de suas contas que somam R$ 2,6 milhões, o presidente da Casa da Moeda, Manoel Severino dos Santos, colocou o cargo à disposição ontem, em ofício ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, que aceitou a demissão. Em nota oficial divulgada pela Casa da Moeda minutos antes de sua saída do governo, ele negou a acusação do publicitário, feita através de documento entregue na segunda-feira à Polícia Federal pela diretora da agência SMPB, Simone Vasconcelos. Os saques teriam ocorrido entre agosto de 2003 e julho de 2004

Na nota, Manoel Severino nega "ter sacado recursos das contas de Marcos Valério ou de suas empresas" e afirma que "nunca esteve em qualquer agência do Banco Rural". No entanto, ele não diz se algum emissário seu teria pego o dinheiro em seu nome. De acordo com Simone, um dos saques, no valor de R$ 326,66 mil, teria sido feito pelo ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato. O advogado de Manoel Severino, Luiz Paulo Viveiros de Castro, desmente que seu cliente tenha recebido o repasse e que tenha "qualquer relação" com Pizzolato, que também deixou o cargo após ficar comprovado que se beneficiou de saques de uma conta de Marcos Valério no Banco Rural.

O Estado antecipou a ligação existente entre Valério e Manoel Severino, em 5 de julho último, ao revelar anotações da agenda de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário, segundo a qual os dois tiveram pelo menos quatro contatos, entre 20 de novembro e 8 de dezembro de 2003.

Ainda na nota, Manoel Severino diz ter solicitado à Controladoria-Geral da União uma análise de todos os seus atos desde que assumiu a Casa da Moeda, em 22 de maio de 2003. E ressaltou que a estatal não tem contrato com nenhuma empresa que tenha contribuído com a campanha eleitoral de 2002, quando coordenou a campanha da candidata Benedita da Silva (PT) ao governo do Rio.

O ex-presidente da Casa da Moeda é um dos fundadores do PT e, de acordo com militantes, costuma ajudar nas campanhas do partido como um "tesoureiro informal". O deputado federal Chico Alencar (RJ) confirma. "Já ouvi falar isso dele e do (ex-secretário de Comunicação do PT Marcelo) Sereno."

Manoel foi secretário de Articulação Governamental do governo Benedita da Silva, sucedendo Sereno. Os dois foram indicados por ela para cargos de confiança no governo federal.

Apesar de não descartar a possibilidade de Valério e Simone estarem mentindo, Chico Alencar disse desconfiar que os R$ 2,6 milhões tenham ido parar em algumas campanhas petistas de 2004. "Como o Delúbio (Soares, ex-tesoureiro do PT) assumiu o caixa 2, presume-se que entraram muitos recursos não contabilizados", afirmou, acrescentando que o dinheiro deve ter ido parar em campanhas mais ricas, como as de Jorge Bittar, no Rio, Godofredo Pinto, em Niterói, e Lindberg Farias, em Nova Iguaçu. Os recursos não aparecem na prestação de contas desses candidatos.

Manoel foi o quinto integrante da cúpula petista a perder o cargo por causa de denúncias relacionadas ao mensalão, depois do ex-ministro José Dirceu, Delúbio, Sereno e do ex-secretário nacional do PT Silvio Pereira.

O Estado procurou Benedita, mas sua assessora disse que ela estava em Brasília e seu celular estava "com defeito".