Título: Impaciência de um lado, irritação de outro
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A10

Não foram poucas as vezes em que a diretora financeira da agência de publicidade SMPB, Simone Vasconcelos, perdeu a paciência com os integrantes da CPI dos Correios. Mas a recíproca também ocorreu. Alguns deputados e senadores ficaram irritados com as dezenas de vezes em que ouviram as la cônicas respostas "não" e "não sei". Arrogância na avaliação de uns, firmeza na opinião de outros. As respostas secas de Simone apareceram já na fase inicial, durante as perguntas do relator, deputado Osmar Serraglio (PMSB-PR). Depois de ouvi-la dizer que não sabia de cor informações básicas sobre a empresa, como o faturamento anual, ele reclamou: "É lamentável, a senhora não está querendo esclarecer."

A senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) observou que Simone respondia de maneira "fria e arrogante". Já o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA) viu "segurança e confiança".

Questionada pelo deputado tucano Eduardo Paes (RJ) sobre os políticos e assessores para quem teria repassado dinheiro, a diretora financeira da agência respondeu: "Não posso inventar o que não fiz."

MUITO OBJETIVA

Ela repetiu à exaustão que só cumpria ordens do patrão, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, e procurou justificar as respostas secas: "Sou uma pessoa muito objetiva, não sou publicitária. Os publicitários têm o dom da palavra, assim como os políticos."

O deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS) insistiu nas perguntas sobre faturamento e movimentações financeiras da SMPB. "Não sei", respondeu Simone quatro vezes seguidas. Lorenzoni então leu os números que tinham em mãos, enfatizando que em 2003 só de CPMF tinha sido paga a "fantástica e inesquecível soma" de R$ 761 mil em 2003, e arrematou: "Com todo respeito, é preciso cair a ficha. A senhora não é testemunha, é cúmplice", acusou.

Simone foi monossilábica ao responder sobre seu patrimônio pessoal e mostrou impaciência diante das insistentes perguntas sobre repasses aos diretórios do PT: "Eu entregava os cheques ao Marcos Valério. O que foi feito não sei."

A deputada e juíza aposentada Denise Frossard (PPS-RJ) disse que a diretora financeira não era cúmplice, mas "operadora" de um esquema de arrecadação de dinheiro para "financiar um projeto de poder".

Indagada se teme o futuro, pois deve perder o emprego na SMPB, em razão das dificuldades enfrentadas pela agência, Simone respondeu mais um não. Desta vez, porém, explicou: "Tenho um marido que me garante. Mas não vou ficar sem trabalhar." .