Título: Simone repete Valério e diz que repasses eram empréstimos ao PT
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/08/2005, Nacional, p. A10

Diretora-financeira da SMPB, Simone Reis Lobo de Vasconcelos sustentou ontem a versão dada por seu patrão, o publicitário Marcos Valério, para explicar o repasse de mais de R$ 50 milhões para o PT e políticos governistas. Em depoimento à CPI dos Correios, Simone, que entregou pessoalmente R$ 7,7 milhões, disse que só cumpriu ordens do chefe. E explicou que o dinheiro dos empréstimos feitos pelas agências de Valério nos Bancos Rural e BMG foi repassado a pessoas indicadas pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e lançado na contabilidade como "extras". Todos os repasses eram registrados como "empréstimo ao PT", inclusive os feitos para outros partidos. Simone corroborou a explicação de que os empréstimos foram a origem exclusiva dos recursos passados a políticos, assessores e prestadores de serviços a partidos.

"Com o passar de alguns meses fiquei incomodada (por ter de entregar pessoalmente dinheiro). Não me ocorreu que fosse ilegal, mas pedi para não fazer mais", contou ela. Com isso, disse, Valério transferiu o esquema de distribuição para a Bônus-Banval e Guaranhuns. "Não me arrependo de nada. Sou muito grata ao Marcos Valério. Ele me deu possibilidade de crescimento profissional. E quando fiquei incomodada por entregar valores isso mudou. Tudo o que fiz foi por determinação do meu patrão."

Ela negou que contasse as notas de dinheiro, como denunciou Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária de Valério. Disse que os valores vinham separados em envelopes ou eram separados por funcionários do banco. Também explicou que demitiu Karina a pedido de Valério, por contenção de gastos, e que soube por outra funcionária da SMPB que Karina tentou chantagear o empresário.

À CPI, Simone entregou lista com o nome de 12 pessoas para as quais entregou diretamente R$ 7,7 milhões. Explicou que a preparou a partir da lista feita por Valério e entregou-a segunda-feira à PF. A maior parte dos saques no Rural de Brasília, segundo ela, foi feita ao longo de 2003. Simone garantiu não saber de pagamento de mesada a parlamentares. "Não tenho conhecimento disso e eu não repassava mensalmente recursos. Distribuía recursos conforme determinação de Valério."

Com Delúbio, ela contou que se encontrou uma só vez, na sede do PT em São Paulo, mas não participou de suas reuniões com Valério. Disse que o ex-secretário-geral do PT Sílvio Pereira sabia do repasse a aliados.

No depoimento, Simone repetiu a história que contou à PF segunda-feira: que em 2004 os repasses para o PT passaram a ser feitos pela Bônus-Banval. As transferências para a Guaranhuns iam para o presidente do PL, Valdemar Costa Neto. "Em 2004 não fui ao Rural em Brasília fazer os saques."

A diretora irritou integrantes da CPI ao dizer que não sabia de cabeça dados básicos da SMPB, como maiores clientes e faturamento. "Não tenho memória para números. Me desculpem, mas não tenho obrigação de saber de cabeça", respondia sempre. Indagada sobre questões que dizia serem de responsabilidade do patrão, Simone afirmou: "Está bom de Marcos Valério voltar aqui."

Por fim, o senador Demóstenes Torres (PFL-GO) também questionou se Simone se reuniu com uma cafetina no 14.º andar do Hotel Gran Bittar, de Brasília. A diretora da SMPB negou. Demóstenes disse posteriormente ter sido informado pela Polícia Federal de que parlamentares e um indicado por Marcos Valério, de nome Ricardo Machado, utilizavam recursos sacados das contas para o pagamento de prostitutas em festas no Hotel Gran Bittar.